FEMINISMOZ

Conceição Osório

Conceição Osório faz parte do pequeno grupo de mulheres que primeiro se identificaram como feministas, numa época em que o conceito era mal compreendido. Para ela, a maneira como se olha para o feminismo tem melhorado ao longo dos anos, tendo em conta que “já foi pior, já foi muito pior. Isso é porque as pessoas ligam o feminismo à … mais uma vez, são as pessoas que aceitam que realmente há um mandato masculino para a dominação. Dizer-se feminista é colocar-se ao lado daquelas mulheres que queimam os sutiens, que andam todas porcas, sujas, são contra os homens, etc. Mesmo a nível regional, eu lembro-me … quem falou em feminismo a primeira vez foi a WLSA Moçambique. Quando falou em feminismo, nós fomos olhadas…eu lembro de olharem para mim e para a Ximena [Andrade] com uma cara, como quem diz, estas gajas são lésbicas de certeza. Só muito mais tarde – e para nós foi uma vitória grande – é que outras mulheres se declararam como feministas. Os homens que comandam as hierarquias emprestaram ao feminismo uma roupagem de anti-masculino e não de anti-machismo. E não de pró-direitos.”

Nascida na cidade de Maputo em 1947, filha de pais portugueses funcionários dos Correios, Conceição é socióloga, pesquisadora, activista pelos direitos humanos das mulheres e, actualmente, responsável pela área de pesquisa na WLSA Moçambique. Viveu parte da infância e adolescência na cidade de Nampula, no norte de Moçambique. A sua consciência política despertou durante os anos da universidade, em Portugal, onde fez a licenciatura (1968) e o mestrado (1971) em História e uma pós-graduação em Ciências Pedagógicas (1971). Lá, envolveu-se na luta antifascista com partidos mais radicais que estavam na clandestinidade, onde nasce a sua posição anticolonial. De volta a Moçambique em 1971, dá aulas numa escola secundária, na cidade de Maputo. Entra, junto com o primeiro marido, num movimento associativo de estudantes (mesmo já sendo formada) e ali continua a sua militância, tentando influenciar as estratégias de luta do movimento e debatendo a luta anticolonial. É durante essas acções, e por via do marido, que por volta de 1973 ingressa na FRELIMO e começa a militar clandestinamente. De 1976 a 1981, trabalhou no Ministério da Educação como coordenadora de uma comissão de apoio pedagógico ao ensino secundário, a nível nacional, que tinha como função fazer a formação de novos professores. Em 1981, entra como docente na UEM, de onde se aposenta em 2008, primeiro na Faculdade de Economia – onde funcionava também a Faculdade para Antigos Combatentes e Trabalhadores de Vanguarda (FACOTRAV), da qual foi chefe do Departamento de História – e mais tarde na Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais (UFICS). Em 1988, conclui o mestrado em Sociologia, na França, e inicia um projecto de candidatura ao doutorado, sobre sociedade, poder político e história, que não concluiu.

O seu interesse pelos direitos humanos começou por ser puramente académico. Ainda na UEM, colaborou pontualmente com a WLSA Moçambique em alguns projectos, principalmente sobre direitos de sucessões, direito à herança e formas de família, fazendo a revisão da literatura, a elaboração de relatórios e alguns capítulos das diversas pesquisas realizadas e publicadas em livro. Foi nessa altura que começou a dar-se conta da discriminação a que as mulheres eram sujeitas e a direcionar o seu interesse mais concretamente aos direitos humanos das mulheres, tendo despertado para o activismo após a participação num congresso sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, na Universidade Federal de Santa Catarina, ao qual foi em representação da WLSA Moçambique e onde se inspirou bastante na experiência das mulheres que encontrou e com quem conviveu.

Depois de aposentada da UEM, passou a fazer parte integral da WLSA Moçambique, como coordenadora de pesquisa, onde está até hoje. Ali o seu trabalho está voltado quase que integralmente para a pesquisa, nomeadamente nas áreas de administração da justiça, poder e violência, violência contra as mulheres, poder político e eleições, representações e práticas de sexualidade, género e governação local, entre outros. Participa activamente, também, em palestras, conferências, debates e mesas redondas organizados pelas diversas organizações de mulheres no país. É na área de pesquisa que reside uma das suas maiores contribuições para o feminismo moçambicano, pois a luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade de género requer um conhecimento profundo da condição e do papel das mulheres, para que mudanças possam ser reivindicadas.


(1) Esta história de vida foi elaborada tendo como base uma série de entrevistas realizadas entre Maio e Julho de 2017, por Catarina Casimiro Trindade, para a sua pesquisa de doutoramento.

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