FEMINISMOZ

Ana Laforte

Uma das primeiras e mais importantes antropólogas moçambicanas, Ana Loforte tem uma vasta trajectória no activismo pelos direitos humanos das mulheres, tendo participado em várias pesquisas, campanhas e eventos nacionais e internacionais, como a Conferência de Beijing. Ana nasceu em 1953 na cidade de Inhambane, capital da província de Inhambane, filha de um funcionário dos Caminhos de Ferro e de uma doméstica. A sua família, “produto da mistura de várias raças ou origens (negros, indianos, brancos)”, que remontam a fins do século XIX, era das mais conhecidas em Inhambane, sendo o seu bisavô comandante das terras a mando da administração portuguesa. Completada a primeira classe do ensino primário, o pai transfere-se para a então cidade de Lourenço Marques (actual Maputo), onde termina os estudos, sempre bastante incentivada pelos pais, apesar das dificuldades financeiras.

Conclui o bacharelato em História em 1975, na então Universidade de Lourenço Marques. Após a conclusão do bacharelato, começou a dar aulas de História no Curso Propedêutico de Letras e no primeiro curso de formação de professores de História e Geografia na Faculdade de Letras, para além de participar nas aulas de Antropologia do curso de História, dadas por um antropólogo português. É nesta altura que se inicia na pesquisa etnográfica, sendo convidada para assistente de pesquisa no distrito de Massinga, em Inhambane. Ainda nessa fase, foi membro do Grupo Dinamizador da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), o primeiro da universidade, como responsável pelo sector de Assuntos Sociais, “as tarefas sempre atribuídas às mulheres”. Nessa função, participou como uma das responsáveis pela Comissão Coordenadora das Actividades de Julho.

Em 1982, realizou uma pesquisa na província de Inhambane, cujo objectivo prendia-se com a recolha de informação para a elaboração do trabalho final para a obtenção de grau de licenciatura, que versou sobre o impacto do trabalho migratório dos homens para a África do Sul nos agregados familiares. É aqui que começa o enfoque nas relações de género, ao prestar atenção especial nas estratégias desenvolvidas pelas mulheres. A militância na defesa dos direitos das mulheres, a colaboração com a Organização da Mulher Moçambicana em debates organizados nos anos 1980 sobre aspectos relacionados com as culturas dos povos, ritos de iniciação e questões ligadas à poligamia, foram influências marcantes para aprofundar o seu debate sobre as relações de género. Para além disso, foi determinante a colaboração com Isabel Casimiro na organização de um encontro , na universidade, sobre a participação da mulher nas cooperativas de produção. Na articulação, para si frutuosa, entre a antropologia e o activismo feminista, iniciou uma pesquisa de doutorado, em Antropologia Social, sobre as relações de género e poder, entre 1991 e 1993, na periferia da cidade de Maputo.

Entre as actividades desempenhadas nos 35 anos em que foi docente da UEM, destacam-se os cargos de Chefe do Departamento de Arqueologia e Antropologia, durante 10 anos, e o de Directora Adjunta da Faculdade de Letras, durante 3 anos. Para além disso, coordenou vários projectos de pesquisa e foi Directora Adjunta para a área da investigação e extensão da Faculdade de Letras e Ciências Sociais. Paralelamente e fora da universidade, foi consultora da Organização Mundial da Saúde para a saúde materno-infantil, durante 5 anos; Assessora Técnica de Género do Fundo das Nações Unidas para Actividades Populacionais junto do Ministério da Mulher e Acção Social, afecta à Direcção Nacional da Mulher, durante 11 anos, cuja função principal era de formação de quadros deste sector, sobre assuntos de género e desenvolvimento, integração de género nos projectos, combate à violência contra a mulher e gestão do Projecto de Reforço da Capacidade Institucional do Ministério. Foi presidente da Mesa da Assembleia Geral e membro do board da WLSA Moçambique, durante 3 anos.

O primeiro contacto que teve com organizações de mulheres foi com a OMM, durante a preparação da sua Conferência Extraordinária em 1977-78. Havia a necessidade de preparar documentos para a conferência, designadamente o posicionamento da organização sobre questões tão controversas como o lobolo, a poligamia e os ritos de iniciação. No trabalho com a OMM e a pedido da UNICEF, participou também numa consultoria para a análise e elaboração de um relatório sobre a situação da mulher em Moçambique, do ponto de vista económico, social e político. A ligação com a OMM permitiu-lhe também fazer parte da delegação que participou numa conferência internacional da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM), realizada em Moscovo. Ainda em delegações da OMM, participou em encontros na Polónia e na Argélia. Como membro da rede de formadores do Fórum Mulher, uma rede de organizações da sociedade civil, deu (e ainda dá) formações na área de género e desenvolvimento, gender mainstreaming e género e HIV/SIDA, prestou assessoria técnica em diversas actividades, realizou capacitações a membros da rede e participou conjuntamente na integração de género nos Planos de Redução da Pobreza Absoluta (PARPA I e PARPA II) e na elaboração de indicadores de género para os Planos Económicos e Sociais debatidos nas reuniões da Revisão Anual Conjunta entre os doadores e o governo. Na MULEIDE, adaptou e elaborou o Manual de Integração de Género, numa actividade conjunta com outros países da SADC, orientou e realizou uma formação a parceiros da organização para testagem e validação do Manual e elaborou um relatório sobre Direito Costumeiro e Acesso à Terra por parte das mulheres em Moçambique.

Em 2012, já aposentada da UEM, concorre a uma vaga de coordenadora para a área de formação da WLSA Moçambique, cargo que ocupa até hoje. Assim como Conceição Osório e Terezinha da Silva, antes de ser quadro da WLSA Moçambique, participou como investigadora associada em várias pesquisas sobre direito a alimentos, heranças e sucessões e famílias e contexto de mudança. Para além de participar em vários eventos no país e no exterior, tem produzido material sobre violência doméstica, a situação da mulher em Moçambique, tradição e modernidade, género e poder, ciências sociais em Moçambique, entre outros.


(1) Esta história de vida foi elaborada tendo como base uma série de entrevistas realizadas entre Maio e Julho de 2017, por Catarina Casimiro Trindade, para a sua pesquisa de doutoramento.

(2) Seminário A Mulher na Reconstrução Nacional em Moçambique, realizado na UEM, de 17 a 22 de Março de 1986.

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