Joana Uarapa

Sofala

Chamo-me Joana Uarapa, nasci e cresci em Chimoio, no Bairro Ketekete, tenho 56 anos, sou casada e tenho cinco filhos/as vivos: duas meninas e três rapazes. Perdi uma filha.  Eu sou a terceira filha da minha mãe e do meu pai. Tenho um irmão vivo. Éramos treze irmãos, seis mulheres e sete homens. Perdi cinco irmãs e cinco irmãos adultos/as, que deixaram filhos/as. Somente um irmão morreu em criança, o último. 

Os meus pais eram de Chimoio e eram camponeses. Eu cresci com os meus pais no bairro Ketekete. Quando eu era criança, ia à machamba, pilava, moía, cozinhava, etc. Os trabalhos de casa…eu cuidava das minhas irmãs e irmãos, mas quando eu reclamava, a minha mãe levava-me à machamba e era outra pessoa a cuidar das crianças da casa. Os meus pais eram muçulmanos, mas quando o meu pai começou a adoecer, mudou para o cristianismo. Ele faleceu sendo cristão. Eu era adolescente, ainda não me tinha casado. Eles não faziam parte de nenhum grupo comunitário, mas faziam machambas coletivas, isto é, alguns casais (mulheres e homens) juntavam-se e trabalhavam na machamba de cada casal à vez. Este trabalho de interajuda era feito somente na segunda sacha (retirar a erva daninha).  O que não me esqueci, desde criança, é de usar a capulana. Nunca me esqueci. Uma coisa de que me lembro que me fazia feliz, quando vivia com os pais, é que eu comia arroz e massa esparguete. Agora, a vida está difícil e já não como. Agora não me sinto feliz porque o meu tempo já passou, não tenho condições.

Casei-me uma única vez. Quando me casei, mudei-me para aqui, que era o terreno dos pais do meu marido. O meu marido era da tropa portuguesa em Mueda. Lá conheceu o meu irmão. O meu marido tornou-se amigo do meu irmão e em conversa manifestou a intenção de se casar com alguém de Mueda. O meu irmão disse-lhe para não casar com alguém de Mueda, porque tinha uma irmã que dava muito bem para casar-se com ele, porque era virgem, referindo-se a mim. Assim que eles regressaram da tropa, o meu marido veio falar com os meus pais para pedir a minha mão. Os meus pais aceitaram e disseram-lhe para que ele voltasse no dia seguinte para levar a mulher. No dia seguinte, ele voltou, eu tinha preparado a comida, preparado água e arrumado um quarto para nós. Ele chegou e dormiu comigo e assim ficamos casados. Eu nunca o tinha visto, não o conhecia, mas aceitei ficar com ele, porque tinha sido o meu irmão a trazer o homem. Eu confiava no meu irmão. Não fizemos nenhuma cerimónia e nem ele pagou dinheiro. Eu gostei de ter casado com ele. Eu, antes, passei pelos ritos de iniciação que duraram três dias. 

Eu não estudei, mas as minhas filhas cresceram comigo e todas estudaram, mas não sei até que classe. Os trabalhos de casa são feitos todos por mim. O meu marido ajuda a varrer, às vezes ajuda a buscar água. O meu marido é quem vende os produtos da machamba. No tempo em que produzia muito, vendia aos comerciantes feijão, milho e outros produtos a bruto, mas agora já não. Depois da venda, eu entregava o dinheiro ao meu marido. Quando eu preciso de comprar alguma coisa, peço a ele. Quando preciso de coisas para a casa, falo com o meu marido e é ele quem vai comprar, embora decidamos juntos o que comprar.

Não fazemos parte de nenhuma associação, mas o meu marido tem uma responsabilidade na mesquita, não me lembro qual é. Nós somos religiosos, vamos sempre à mesquita. Eu não faço parte de grupo comunitário.

Quando as minhas filham casaram-se, os seus maridos vieram pedir a mão delas. Não fizemos nenhuma festa ou cerimónia e nem pagaram nada. Mas as filhas passaram pelos ritos de iniciação de um dia. Eu é que descobri que as filhas já menstruavam e informei ao meu marido. De seguida, tratamos de organizar a cerimónia.

Não me lembro quantos anos tinha quando tive a primeira enxada. Mas lembro-me de que era pequenina e nessa altura houve um ciclone que tinha passado à noite. Comecei a ir à machamba trabalhar já era grandinha (7 a 10 anos, mais ou menos). A minha primeira enxada era usada, tinha sido do meu pai. Era uma enxada do ferreiro (de bico), comprada na loja. Dantes, vendiam esse tipo de enxada na loja. Enquanto vivi com os pais, tive enxadas usadas que eram do pai, mas quando adolescente, o pai comprou-me uma enxada nova e era de bico. 

Antes de me casar, tinha uma pequena machamba onde plantava milho e mandioca. Quando o meu pai me dava a enxada dele, mudava o cabo, porque partia-se, mas também tinha de por um cabo para adaptá-la ao meu tamanho, mais curto, mas era direito. A enxada da minha mãe tinha o cabo direito também. Só há cerca de três a quatro anos é que eu comecei a trabalhar com enxada de argola. A minha primeira enxada de argola roubaram, esta tenho há cerca de dois anos. As minhas filhas começaram a pegar na enxada com mais ou menos três a quatro anos. Não me lembro com quantos anos as minhas filhas começaram a ir à machamba, mas iam comigo. As minhas filhas tinham enxada de bico, do ferreiro, usadas. A minha filha mais velha, antes de ir à escola, teve uma enxada nova comprada por mim. Era enxada do ferreiro (de bico). Cá em casa, é o meu marido quem escolhe o cabo, monta e afia a enxada.

Eu prefiro a enxada de argola, porque a de bico é difícil por no cabo. Eu sei por o cabo e às vezes ponho. Para produzir mais e rápido, prefiro a de argola. Eu já pensei numa enxada melhor que esta, que seria a de ferreiro. Essa enxada tem de ser leve, fácil de por o cabo, a lâmina deve ser igual à da argola como a que tenho agora. Eu sempre fui feliz com o meu casamento, mas agora estou a ficar velha. Eu era feliz quando era mais jovem com o meu marido, porque tinha uma criação de cabritos que depois roubaram.

Entrevista por Joana Ou-chim 2 .


1 Trechos da história de vida de Saminha Jahali no Projeto de pesquisas sobre o uso da enxada e as condições de genero da Oxfam Solidarité Belgica em Moçambique. Financiado pela Fundação Bill e Melinda Gate. Data da entrevista: 4 de Março de 2014 Localidade de Katapua sede, Distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado. Entrevista feita em Macua por Joana Ou-chim com tradução de Vestina Florêncio Vololia.

2 Joana Ou-chim é consultora na área de género e desenvolvimento em Moçambique.

3 Cavar a terra usando sacho; mondar (arrancar ervas daninhas de uma plantação ou de um jardim; desbastar árvore; limpar
retirando o que é prejudicial). Disponível em: www.priberam.pt/sanchar e www.priberam.pt/mondar. Acesso em 20, julho.,2015.


Zareta Alberto


Zareta Alberto, do distrito de Gorongosa, província de Sofala (zona centro de Moçambique) é uma mulher que acredita na justiça de género e no direito de mulheres e homens viverem livres de todo o tipo de violência.

A Zareta coordena o Comité Mulheres, Paz e Segurança da Gorongosa, um grupo composto maioritariamente por mulheres, que visa reflectir e mudar crenças e comportamentos que sustentam a ausência da paz. Neste sentido, o grupo aborda as questões de paz tanto na família como nas comunidades e no país, como esferas interligadas e interdependentes de construção da paz. O Comité procura sensibilizar os homens e as mulheres para que possam mudar os comportamentos que criam também injustiças de género, como a sobrecarga de trabalho por parte das mulheres, os casamentos prematuros, a violência doméstica e a violência praticada contra as mulheres e raparigas. As mulheres membros do grupo desejam “mudar a nós e aos nossos maridos”

A Zareta tem sido uma força motivadora para as mulheres e homens com consciência de justiça de género no distrito de Gorongosa. Ela partilha recursos e formações que permitem à mulheres e homens reflectirem sobre os seus papéis de género, a distribuição de tarefas e recursos nas famílias e sobre os limites para que as mulheres possam desfrutar dos seus direitos, consagrados na Constituição da República. 

O Comité coordenado por Zareta também tem sido uma fonte para a cura de situações difíceis, vividas sobretudo pelas mulheres. Através do estudo e aplicação dos conteúdos de um manual sobre Mulher, Paz e Segurança, ao qual tiveram acesso, as mulheres membros partilham entre si como eram as suas vidas durante a guerra, fazem comparações conscientes entre o tempo de guerra e o tempo de paz, falam sobre as atrocidades cometidas, como a execução de mulheres grávidas, sobre as mulheres violadas durante a guerra e durante os períodos de paz, partilham sobre as violências que viveram, sobre os bens levados, as casas queimadas, e sobre todo o tipo de sofrimento que enfrentaram. Estas experiências oferecem aos membros do Comité um espaço seguro para falar abertamente sobre temas que criaram e criam muita dor mas, que em alguns contextos, ainda são tabus. E também um espaço que produz mudanças sociais que permitem às mulheres sonharem com famílias e comunidades livres de violência dentro e fora de casa.

A Zareta sonha que, com tempo e paciência, o Comité Mulheres, Paz e Segurança da Gorongosa possa se multiplicar por todo o distrito, com sub-comités em várias comunidades, sobretudo nas mais recônditas. O seu grande sonho é poder contribuir para mudar a vida de outras mulheres que ainda não tiveram a exposição e oportunidades que ela teve através do Comité e contribuir para criar um cenário mais favorável para as mulheres, livre de conflito político-militar, da violência doméstica e dos casamentos prematuros. 

O sonho do comité é que as condições para que haja empoderamento das mulheres chegue também às zonas onde não existe o Comité Mulheres, Paz e Segurança. Ou seja, desejam que haja uma transformação profunda das relações de poder, das normas sociais, do acesso e controle dos recursos na sociedade, que permita que as mulheres e raparigas possam decidir sobre os assuntos que afectam as suas vidas.


Zareta Alberto é coordenadora do Comité Mulheres, Paz e Segurança da Gorongosa 

História escrita por Khanysa Mabyeka, baseada numa entrevista realizada por Sylvie Desautels, em Março 2020, com o Comitê de Mulheres, Paz e Segurança de Gorongosa, no âmbito de uma pesquisa liderada pelo Gorongosa Restoration Project.

Conceição Osório

Conceição Osório faz parte do pequeno grupo de mulheres que primeiro se identificaram como feministas, numa época em que o conceito era mal compreendido. Para ela, a maneira como se olha para o feminismo tem melhorado ao longo dos anos, tendo em conta que “já foi pior, já foi muito pior. Isso é porque as pessoas ligam o feminismo à … mais uma vez, são as pessoas que aceitam que realmente há um mandato masculino para a dominação. Dizer-se feminista é colocar-se ao lado daquelas mulheres que queimam os sutiens, que andam todas porcas, sujas, são contra os homens, etc. Mesmo a nível regional, eu lembro-me … quem falou em feminismo a primeira vez foi a WLSA Moçambique. Quando falou em feminismo, nós fomos olhadas…eu lembro de olharem para mim e para a Ximena [Andrade] com uma cara, como quem diz, estas gajas são lésbicas de certeza. Só muito mais tarde – e para nós foi uma vitória grande – é que outras mulheres se declararam como feministas. Os homens que comandam as hierarquias emprestaram ao feminismo uma roupagem de anti-masculino e não de anti-machismo. E não de pró-direitos.”

Nascida na cidade de Maputo em 1947, filha de pais portugueses funcionários dos Correios, Conceição é socióloga, pesquisadora, activista pelos direitos humanos das mulheres e, actualmente, responsável pela área de pesquisa na WLSA Moçambique. Viveu parte da infância e adolescência na cidade de Nampula, no norte de Moçambique. A sua consciência política despertou durante os anos da universidade, em Portugal, onde fez a licenciatura (1968) e o mestrado (1971) em História e uma pós-graduação em Ciências Pedagógicas (1971). Lá, envolveu-se na luta antifascista com partidos mais radicais que estavam na clandestinidade, onde nasce a sua posição anticolonial. De volta a Moçambique em 1971, dá aulas numa escola secundária, na cidade de Maputo. Entra, junto com o primeiro marido, num movimento associativo de estudantes (mesmo já sendo formada) e ali continua a sua militância, tentando influenciar as estratégias de luta do movimento e debatendo a luta anticolonial. É durante essas acções, e por via do marido, que por volta de 1973 ingressa na FRELIMO e começa a militar clandestinamente. De 1976 a 1981, trabalhou no Ministério da Educação como coordenadora de uma comissão de apoio pedagógico ao ensino secundário, a nível nacional, que tinha como função fazer a formação de novos professores. Em 1981, entra como docente na UEM, de onde se aposenta em 2008, primeiro na Faculdade de Economia – onde funcionava também a Faculdade para Antigos Combatentes e Trabalhadores de Vanguarda (FACOTRAV), da qual foi chefe do Departamento de História – e mais tarde na Unidade de Formação e Investigação em Ciências Sociais (UFICS). Em 1988, conclui o mestrado em Sociologia, na França, e inicia um projecto de candidatura ao doutorado, sobre sociedade, poder político e história, que não concluiu.

O seu interesse pelos direitos humanos começou por ser puramente académico. Ainda na UEM, colaborou pontualmente com a WLSA Moçambique em alguns projectos, principalmente sobre direitos de sucessões, direito à herança e formas de família, fazendo a revisão da literatura, a elaboração de relatórios e alguns capítulos das diversas pesquisas realizadas e publicadas em livro. Foi nessa altura que começou a dar-se conta da discriminação a que as mulheres eram sujeitas e a direcionar o seu interesse mais concretamente aos direitos humanos das mulheres, tendo despertado para o activismo após a participação num congresso sobre saúde e direitos sexuais e reprodutivos, na Universidade Federal de Santa Catarina, ao qual foi em representação da WLSA Moçambique e onde se inspirou bastante na experiência das mulheres que encontrou e com quem conviveu.

Depois de aposentada da UEM, passou a fazer parte integral da WLSA Moçambique, como coordenadora de pesquisa, onde está até hoje. Ali o seu trabalho está voltado quase que integralmente para a pesquisa, nomeadamente nas áreas de administração da justiça, poder e violência, violência contra as mulheres, poder político e eleições, representações e práticas de sexualidade, género e governação local, entre outros. Participa activamente, também, em palestras, conferências, debates e mesas redondas organizados pelas diversas organizações de mulheres no país. É na área de pesquisa que reside uma das suas maiores contribuições para o feminismo moçambicano, pois a luta pelos direitos das mulheres e pela igualdade de género requer um conhecimento profundo da condição e do papel das mulheres, para que mudanças possam ser reivindicadas.


(1) Esta história de vida foi elaborada tendo como base uma série de entrevistas realizadas entre Maio e Julho de 2017, por Catarina Casimiro Trindade, para a sua pesquisa de doutoramento.

Ema Bachir Boane

Nampula

Chamo-me Ema Bachir Boane, tenho 53 anos de idade, sou divorciada e tenho seis filhos: quarto meninas e dois rapazes. Sou membro da Associação Filipe Samuel Magaia e presidente da Associação. Sou presidente da Associação há 4 anos.

A minha história como membro da associação começa quando eu fiquei desempregada. Eu trabalhava e depois fiquei desempregada, fiquei em casa. Como não estava a fazer nada e não me sentia bem assim, decidi entrar para um grupo de mulheres de xitique. No grupo, havia uma mulher que era membro de uma Associação. Isto interessou-me e disse-lhe que eu queria entrar para a Associação. Ela levou-me e apresentou-me ao Conselho de Direcção. Preenchi os documentos e requisitos, paguei a taxa de membro e comecei a exercer actividades como membro. Com o andar do tempo, o meu marido começou a criar-me problemas, dizia que não me queria ver na Associação. Ele achava que não ia para a Associação, mas que andava a encontrar-me com outros homens. Eu disse-lhe que não, que eu tenho de trabalhar na Associação porque quando eu trago comida para casa todos comem. Para além disso, ele trabalhava e eu nunca o proibi de trabalhar. O assunto arrastou-se até que chegou na família. Debateu-se e ele acabou por aceitar que eu continuasse a trabalhar na Associação. Em 2015, realizou-se a Assembleia eleitoral. Eu concorri e elegeram-me como Presidente da Associação.

Eu gosto muito da Associação porque ser membro ajudou-me muito, muito, muito mesmo. Hoje, para além de ser membro dos órgãos sociais, tenho a minha casa própria, bem recheada. Consegui casa própria, formar meus filhos, um está na Saúde, dois são professores, todos são licenciados, embora eu não tenha estudo muito. Consegui isto tudo graças à Organização, graças ao facto de ser membro e ser camponesa. No início, éramos muitas mulheres na Associação, mas muitas tiveram problemas com os maridos e abandonaram. Eu tentava mobilizá-las para ficarem e conversarem com os seus maridos, tentar convencê-los que ser membro ajuda muito, mas nem sempre consegui. Eu já conheci muitos lugares graças à Associação. Hoje não compro arroz, amendoim, etc. Tiro da minha machamba e vendo os excedentes.

Quando o presidente da Associação faleceu e eu fui eleita para presidente tive vários problemas na Associação. A comunidade invadiu os nossos terrenos, para vendê-los a outros ditos investidores. Temos terras de sequeiro e terras na baixa. Alguns membros traíram-me, pois não me respeitavam por ser mulher e acharem que não seria capaz de dirigir a organização. Com relação às usurpações dos nossos terrenos, apresentei a questão ao Conselho Municipal, bem como ao Chefe do Posto. Estes foram falar com a comunidade, mas não conseguiram resolver o problema. Assim sendo, apresentei o problema ao STAE e estamos à espera da resolução. Entendo que o problema é por eu ser mulher e eles não querem uma mulher na frente da organização, mas eu mantenho-me firme e enfrento a situação. Caso seja necessário, eu vou colocar o problema no tribunal. Nós temos DUAT por 40 anos, portanto a terra é nossa, ainda não passaram 40 nos de exploração. Há muitas pessoas que ainda desprezam as mulheres, não pensam que ser mulher é ser uma pessoa igual a eles. Nem todos aceitam ter uma mulher em postos de liderança.

Acho que estão a tentar desvalorizar-me, mas mesmo assim, eu não tenho medo. Enfrento as pessoas e até pergunto “quem você pensa que é?”. Dizem “Samora Machel morreu…” Eu respondo dizendo que não tenho medo da morte. Se vocês acham que com a minha morte resolvem o vosso problema, estão enganados, isto é uma Associação, mesmo que eu morra, outra pessoa tomará o meu lugar e a mesma posição. É um bem colectivo e não individual.

Estou separada do meu marido desde o ano passado. Ele trabalhava. Quando perdeu o emprego, começou a fazer negócios. Deslocava-se muito para Quelimane, onde ficava longo períodos de tempo. Começou a relacionar-se com uma outra mulher. Eu não gostei e decidi separar-me dele. Quelimane é uma zona onde há muitos problemas de doenças de transmissão sexual. Separamo-nos e eu mudei-me para a minha casa que construí. Deixei-o porque também não ajudava em casa, deixou de comprar comida, ficava um ano sem aparecer em casa, só ligava. Com relação aos direitos das mulheres, o que me marcou muito muito é o facto de eu, como mulher, enfrentar um grupo de pessoas, durantes estes quatro anos, sempre progredindo, sem recuos. Mostrou-me que tenho capacidades de liderança, mesmo para enfrentar os homens.

O que me marcou é a responsabilidade que eu tenho e capacidade de enfrentar um grupo de 33 pessoas. Quando me elegeram, eu quase chorei, pensei que não ia conseguir exercer bem o cargo, mas agora já estou acostumada, já sei fazer meus planos, já tenho coragem, sinto que já tenho capacidade. Mesmo quando sofremos esse problema de invasão, sentei e pensei, eu hei-de morrer, mas reconheci que eu é que sou a responsável e os outros acompanham-me, isso encheu-me de coragem e isso marcou-me.

Sinto e percebo que ser membro e Presidenta da Associação é o meu ganha pão. Saber que as pessoas confiam em mim, faz-me perceber que não posso enfraquecer, vai ser mal visto por ser mulher, por isso eu tenho de mostrar toda a minha força e que eu sou capaz. Como sei que a mulher tem direitos, esta minha atitude faz-me sentir orgulho, liberdade. A mulher que não sabe que as mulheres têm direitos, talvez não sinta essa força, trabalha com medo, mas eu não, eu sei que a mulher tem o direito de trabalhar, de assumir qualquer cargo, tem o direito de tomar decisões, por isso eu trabalho com força. Para mim, no âmbito da luta dos direitos das mulheres em Moçambique, o que conseguimos de mais importante é o empoderamento das mulheres. Embora não atingimos os 100%, gostei muito. Empoderamento da mulher é a mulher conseguir decidir por ela, fazer o que ele acha que é capaz de fazer, não permitir que outras pessoas decidam ou escolham por ela. Ter a liberdade. Há homens que ainda não aceitam essa liberdade, apesar de tantas lutas que fazemos, por isso ainda não alcançamos os 100%. Por isso vamos continuar a lutar até atingirmos o nível que nós queremos.

Desde que eu estou como presidente na minha Associação, o que mudou com relação aos Direitos das Mulheres é que nos encontros eu leio os estatutos e faço ver que todos temos os mesmos direitos, homens e mulheres, e vejo que há mudanças. Aos poucos vão aceitando o que as mulheres querem. Por exemplo, antes a maior parte dos membros dos órgão sociais eram homens só, depois, quando se fizeram as listas para concorrer, eu disse que não podiam ser somente homens, as mulheres tinham, também, de entrar na listas. As mulheres têm o direito de votar e de serem eleitas. Em resultado disso, neste momento nos órgãos sociais temos 4 mulheres e 3 homens. Vejo que estão a aceitar, embora algumas digam que não são capazes. Eu sempre incentivo, dizendo que todas as pessoas aprendem fazendo. Temos tesoureiras, conselheiras, membros do conselho fiscal, secretárias mulheres.

Nesta nossa luta pelos direitos das mulheres, o que falta mudar é a ajuda dos homens nos trabalhos domésticos. Muitos homens não aceitam ajudar as mulheres em casa, principalmente na zona rural. É preciso fazer trabalho nesse sentido para mudar. Na minha associação, acho que em algumas situações, os homens rejeitam o que digo. Se eu fosse fraca, a associação não avançaria. Ainda não estão convencidos que uma mulher pode liderar.

Na minha comunidade, vejo às vezes os homens a humilharem as mulheres, o casal luta na rua. Às vezes eu falo com eles e digo que todos os casais têm problemas, mas não podem lutar na rua. Resolvem-se os problemas dentro de casa. Houve um caso de uma vizinha minha que estava casada e o marido resolveu arranjar outra mulher. Ele começou a levar as coisas de casa desta primeira mulher para a casa da segunda. Ela chamou-me e apresentou-me o caso. Eu fui ter com o marido e disse-lhe que não devia fazer isso. Que devia é trabalhar para sustentar e equipar a sua nova casa e não levar as coisas da casa da primeira mulher para a casa da segunda. Disse-lhe também que se insistisse em fazer isso e a sua mulher apresentasse o caso nas instituições competentes, ele iria perder a razão. Ele parou.

O meu grande sonho é nas próximas eleições concorrer para os órgãos Sociais da União Distrital, aprender mais e ter mais experiência. Quero tentar conseguir deixar a minha marca lá. Todos queremos progredir, eu também quero progredir, quero ver se aqui onde estou melhoro.

Este contexto de COVID-19 é para mim uma situação muito triste. Às vezes, quando quero pensar no futuro, fico com dúvida se chegarei a esse futuro. Fico em casa com os meus filhos, aconselho-os, bem como aos membros da Associação, embora haja os que não acreditam que a doença exista, pensam que é política. Não usam a máscara, mas eu insisto para que cumpram com as normas que o governo determinou. Temos de cumprir. Sensibilizo e exijo que, quando estamos nos encontros, devemos cumprir com o distanciamento social, usar a máscara e lavar as mãos com sabão. A protecção não é só para uma pessoa, é para cada pessoa, sua família, vizinhos, comunidade. Quando uma pessoa se infecta, é um perigo para todos. Trabalhamos porque é preciso trabalhar, se não trabalharmos vamos morrer de fome, mas com responsabilidade e com a consciência no lugar. Os tempos que estamos a viver são muito difíceis, perigoso. É uma doença que está a fazer muitas vítimas no país e no mundo. Eu vou à machamba com medo, mas não posso parar, tenho de trabalhar. É o meu sustento. Ceifei arroz neste contexto de pandemia, agora estou a programar para ir tirar mandioca, sempre usando a máscara. Toda esta situação provoca-me um sentimento de tristeza. Como muita gente pensa, eu também penso que se calhar isto é o fim do mundo, mas também penso que ninguém sabe se é ou não, Deus é quem sabe qual o nosso destino. Na minha zona, até agora não temos problemas de conflitos armados. Com esta pandemia, as pessoas pouco saem de casa, não acompanhei nem prestei atenção se a violência contra as mulheres está a aumentar ou a diminuir. Não sei. Mesmo a vizinha, vejo de vez em quando, não todos os dias. Há muita gente que não acredita na doença, reclamam que o governo está a impedir as pessoa de trabalhar. Acham que lavar as mão é só quando se vai comer. Eu tento sensibilizar e dizer que o governo não trouxe a doença, é um problema mundial. O governo, pelo contrário, está a tentar proteger-nos. Eles dizem que toda a gente vai morrer e que, por isso, não devia haver restrições. Eu pergunto, a ser assim, quando você fica doente, porque é que vai ao Hospital e não fica em casa para morrer? Temos de tentar cumprir as normas para não matar os outros, já que você quer morrer. As pessoas acreditam muito na religião que diz que Deus é quem determina o destino de cada pessoa. Mas eu digo sempre que não é assim, nós também temos de fazer a nossa parte. Vamos deixar de ser ignorantes. É por essa razão que aqui em Nampula os índices de contaminação são mais altos que em outras províncias. Um dia destes discuti com alguém no chapa. Ele não estava a usar a máscara. Eu perguntei-lhe porque é que não estava a usar a máscara, quer matar-nos? Ele respondeu que tinha a máscara, mas que estava no bolso. Eu disse-lhe que as pessoas como ele, que não usam a máscara, principalmente no chapa, deviam ser levadas à esquadra da polícia. Gerou-se uma discussão. Todas as pessoas começaram a reclamar, até que ela acabou por colocar a máscara. Gostaria de desejar às outras mulheres força, não se podem cansar. Uma pessoa não se cansa enquanto não conseguir o que quer e procura. Mesmo com os diversos problemas que nós as mulheres sofremos, humilhação, violência, etc, temos de gritar: isto não queremos, queremos assim. Havemos de conseguir o pouco que queremos. Na avaliação do projecto AgriMulheres, disse que nós precisamos de projectos sobre Direitos Reprodutivos e Sexuais. Nas zonas rurais, as mulheres são obrigadas a tere filhos consecutivos e muitos. Elas não podem dizer que já não querem ter mais filhos. Os homens dizem que elas não podem comer a “chima” deles em vão, têm de fazer filhos. Encontramos mulheres com uma criança pequena e grávidas.

Maputo, 21 de Julho de 2020

Entrevista por Joana M. M. Ou-chim (1) .
Fotografias de João Albano Zeca Anibal.


(1) Joana M. M. Ou-chim é consultora na área de género e desenvolvimento em Moçambique.


Rosalina Passora

Maputo

Chamo-me Rosalina Passora, nasci e cresci em Mueda, tenho 39 anos, não tenho filhos/as, sou casada e sou camponesa. Mudei-me para Ocua em 1984, quando casei. Tenho cinco enteado/as: três mulheres e dois homens. Cresceram comigo e depois casaram. Tenho oito irmãos/ãs vivos: um homem e sete mulheres, mas perdi quatro: duas mulheres e dois homens. Eu sou a terceira filha dos meus pais.

Os meus pais já faleceram, eram de Mueda e sempre viveram lá. Eles eram camponeses. O meu pai também era pedreiro (construtor). Os meus pais eram muçulmanos, mas eu sou cristã. Os meus pais deixaram que cada filho/a escolhesse a religião que queria frequentar. Em casa, era a minha mãe quem guardava o dinheiro, mas não sei como é que o meu pai fazia quando precisava de dinheiro. Eu passei pelos Ritos de Iniciação de dois meses antes de ter menstruado. Foi a minha mãe quem tomou a decisão de me mandar para os Ritos. Em casa, era a minha mãe quem fazia todas as tarefas domésticas. O meu pai construía a casa de banho, o quintal, tratava da casa e comprava a comida. Eu e as minhas irmãs ajudávamos a minha mãe. Eu não estudei, mas todas as minhas irmãs e o meu irmão estudaram. Tanto a minha mãe como o meu pai não faziam parte de nenhum grupo comunitário.

Casei-me em Mueda. Ele viu-me e gostou de mim, foi ter com os meus pais para pedir-me em casamento. Ele pagou 150,00 Meticais por mim. Fizemos festas e casamos pela igreja. Depois viemos viver em Ocua onde fiz os Ritos de iniciação Macua de um dia porque o meu marido assim quis (os ritos feitos em Mueda foram antes de ter o período).

Eu é que guardo o dinheiro, quando o meu marido precisa de dinheiro, pedi-me. Quando eu preciso de dinheiro peço-he e depois uso. As minhas filhas estudaram todas e os meus filhos também. As minhas filhas também passaram pelos Ritos Macondes antes de terem o período. A minha filha mais velha, casou pela igreja e o marido pagou 200,00 Meticais. Normalmente, o meu marido só vai a machamba e passeia. As vezes ajuda-me a vender a “cabanga 3 ” como é o caso de agora. Deixei o meu marido a vender para vir falar convosco. Mas, todos os trabalhos de casa são feitos por mim.

Não fazemos parte de nenhuma associação, mas o meu marido faz parte do conselho de escola. Eu faço “cabanga” e vendo. Comecei há muito tempo. Eu é que guardo esse dinheiro. Eu é que faço todas as tarefas de casa. Eu vivo com o meu marido e duas netas. Elas são pequenas e não podem ajudar.

Não me lembro quantos anos tinha quando tive a minha primeira enxada, mas comecei a ir a machamba com sete anos. A primeira enxada que tive era usada, mas não me lembro de quem era, se era da minha mãe ou se era do meu pai. Lembro-me que compraram enxada nova quando era adolescente. Eram uma enxada da loja (com argola). Foi o meu pai quem comprou. Ele foi vender castanha e depois comprou a enxada.

Depois de casada é o meu marido quem compra as minhas enxadas e sempre de argola. Nunca usei a enxada de bico. Quem escolhe o cabo, coloca na enxada e afia é o meu marido porque eu não sei fazer. As minhas filhas começaram a ir a machamba comigo aos seis anos, mas não faziam nada de especial. Elas estavam a estudar e não iam trabalhar na machamba. Eu nunca dei enxadas à elas. O cabo da enxada do meu marido é um pouco maior que a minha porque ele é homem, tem mais força. Por isso, também a minha é mais pequena. Não me lembro quando é que o meu marido comprou esta enxada. As Minhas enxadas costumam durar cerca de dois anos. Gostaria, sim, de ter uma enxada diferente, leve.

Eu vivo bem, porque o meu marido trata-me bem, quer dizer, compra-me comida, sabão, roupa, sal, caril e por isso agradeço. Ele claro que também zanga comigo e bate-me mas eu perdoou-lhe sempre. Não me lembro de nenhuma história feliz da minha vida para contar.

Entrevista por Joana Ou-chim 2 .


1 Trechos da história de vida de Rosalina Passora no Projeto de pesquisas sobre o uso da enxada e as condições de genero da Oxfam Solidarité Belgica em Moçambique. Projeto Bill e Melinda Gates. Data da entrevista: 5 de Março de 2014. Localidade Posto Administrativo de Ocua sede,
Distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado. Entrevista feita em Macua por Joana Ou-chim com tradução de Maria de Fátima Sadique.

2 Joana Ou-chim é consultora na área de género e desenvolvimento em Moçambique.

3 Cabanga: bebida fermentada feita da folha da mandioca


Ana Laforte

Uma das primeiras e mais importantes antropólogas moçambicanas, Ana Loforte tem uma vasta trajectória no activismo pelos direitos humanos das mulheres, tendo participado em várias pesquisas, campanhas e eventos nacionais e internacionais, como a Conferência de Beijing. Ana nasceu em 1953 na cidade de Inhambane, capital da província de Inhambane, filha de um funcionário dos Caminhos de Ferro e de uma doméstica. A sua família, “produto da mistura de várias raças ou origens (negros, indianos, brancos)”, que remontam a fins do século XIX, era das mais conhecidas em Inhambane, sendo o seu bisavô comandante das terras a mando da administração portuguesa. Completada a primeira classe do ensino primário, o pai transfere-se para a então cidade de Lourenço Marques (actual Maputo), onde termina os estudos, sempre bastante incentivada pelos pais, apesar das dificuldades financeiras.

Conclui o bacharelato em História em 1975, na então Universidade de Lourenço Marques. Após a conclusão do bacharelato, começou a dar aulas de História no Curso Propedêutico de Letras e no primeiro curso de formação de professores de História e Geografia na Faculdade de Letras, para além de participar nas aulas de Antropologia do curso de História, dadas por um antropólogo português. É nesta altura que se inicia na pesquisa etnográfica, sendo convidada para assistente de pesquisa no distrito de Massinga, em Inhambane. Ainda nessa fase, foi membro do Grupo Dinamizador da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), o primeiro da universidade, como responsável pelo sector de Assuntos Sociais, “as tarefas sempre atribuídas às mulheres”. Nessa função, participou como uma das responsáveis pela Comissão Coordenadora das Actividades de Julho.

Em 1982, realizou uma pesquisa na província de Inhambane, cujo objectivo prendia-se com a recolha de informação para a elaboração do trabalho final para a obtenção de grau de licenciatura, que versou sobre o impacto do trabalho migratório dos homens para a África do Sul nos agregados familiares. É aqui que começa o enfoque nas relações de género, ao prestar atenção especial nas estratégias desenvolvidas pelas mulheres. A militância na defesa dos direitos das mulheres, a colaboração com a Organização da Mulher Moçambicana em debates organizados nos anos 1980 sobre aspectos relacionados com as culturas dos povos, ritos de iniciação e questões ligadas à poligamia, foram influências marcantes para aprofundar o seu debate sobre as relações de género. Para além disso, foi determinante a colaboração com Isabel Casimiro na organização de um encontro , na universidade, sobre a participação da mulher nas cooperativas de produção. Na articulação, para si frutuosa, entre a antropologia e o activismo feminista, iniciou uma pesquisa de doutorado, em Antropologia Social, sobre as relações de género e poder, entre 1991 e 1993, na periferia da cidade de Maputo.

Entre as actividades desempenhadas nos 35 anos em que foi docente da UEM, destacam-se os cargos de Chefe do Departamento de Arqueologia e Antropologia, durante 10 anos, e o de Directora Adjunta da Faculdade de Letras, durante 3 anos. Para além disso, coordenou vários projectos de pesquisa e foi Directora Adjunta para a área da investigação e extensão da Faculdade de Letras e Ciências Sociais. Paralelamente e fora da universidade, foi consultora da Organização Mundial da Saúde para a saúde materno-infantil, durante 5 anos; Assessora Técnica de Género do Fundo das Nações Unidas para Actividades Populacionais junto do Ministério da Mulher e Acção Social, afecta à Direcção Nacional da Mulher, durante 11 anos, cuja função principal era de formação de quadros deste sector, sobre assuntos de género e desenvolvimento, integração de género nos projectos, combate à violência contra a mulher e gestão do Projecto de Reforço da Capacidade Institucional do Ministério. Foi presidente da Mesa da Assembleia Geral e membro do board da WLSA Moçambique, durante 3 anos.

O primeiro contacto que teve com organizações de mulheres foi com a OMM, durante a preparação da sua Conferência Extraordinária em 1977-78. Havia a necessidade de preparar documentos para a conferência, designadamente o posicionamento da organização sobre questões tão controversas como o lobolo, a poligamia e os ritos de iniciação. No trabalho com a OMM e a pedido da UNICEF, participou também numa consultoria para a análise e elaboração de um relatório sobre a situação da mulher em Moçambique, do ponto de vista económico, social e político. A ligação com a OMM permitiu-lhe também fazer parte da delegação que participou numa conferência internacional da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM), realizada em Moscovo. Ainda em delegações da OMM, participou em encontros na Polónia e na Argélia. Como membro da rede de formadores do Fórum Mulher, uma rede de organizações da sociedade civil, deu (e ainda dá) formações na área de género e desenvolvimento, gender mainstreaming e género e HIV/SIDA, prestou assessoria técnica em diversas actividades, realizou capacitações a membros da rede e participou conjuntamente na integração de género nos Planos de Redução da Pobreza Absoluta (PARPA I e PARPA II) e na elaboração de indicadores de género para os Planos Económicos e Sociais debatidos nas reuniões da Revisão Anual Conjunta entre os doadores e o governo. Na MULEIDE, adaptou e elaborou o Manual de Integração de Género, numa actividade conjunta com outros países da SADC, orientou e realizou uma formação a parceiros da organização para testagem e validação do Manual e elaborou um relatório sobre Direito Costumeiro e Acesso à Terra por parte das mulheres em Moçambique.

Em 2012, já aposentada da UEM, concorre a uma vaga de coordenadora para a área de formação da WLSA Moçambique, cargo que ocupa até hoje. Assim como Conceição Osório e Terezinha da Silva, antes de ser quadro da WLSA Moçambique, participou como investigadora associada em várias pesquisas sobre direito a alimentos, heranças e sucessões e famílias e contexto de mudança. Para além de participar em vários eventos no país e no exterior, tem produzido material sobre violência doméstica, a situação da mulher em Moçambique, tradição e modernidade, género e poder, ciências sociais em Moçambique, entre outros.


(1) Esta história de vida foi elaborada tendo como base uma série de entrevistas realizadas entre Maio e Julho de 2017, por Catarina Casimiro Trindade, para a sua pesquisa de doutoramento.

(2) Seminário A Mulher na Reconstrução Nacional em Moçambique, realizado na UEM, de 17 a 22 de Março de 1986.

Cecília Rachide

Chamo-me Cecília Rachide, sou casada há 33 anos e tenho 55 anos. Nasci, cresci, casei e tive filhos em Mazeze. Vivi sempre aqui nesta casa (terreno). Sou camponesa e filha de pais camponeses. Tive 10 filhos, dos quais cinco faleceram e cinco estão vivos: dois rapazes e três meninas. Neste momento, eu vivo com o meu marido e duas filhas.

Os rapazes estão a estudar, uma menina está casada e das duas mais novas que vivem comigo uma estuda e a outra já não estuda porque não temos dinheiro, ela fez a sétima classe. Eu só fiz a primeira classe há muito tempo, não me lembro da data.

Eu cresci com a minha mãe e o meu padrasto. Quando a minha mãe estava grávida de dois meses de mim, o meu pai abandonou-a, arranjou outra mulher e foi-se embora. Nós somos sete irmãos/ãs: três mulheres e quatro homens.

Cresci com três das minhas irmãs, os rapazes cresceram com os meus tios. Uma coisa de que me lembro com carinho quando era criança, é que o meu padrasto amava-me muito. Ele faleceu no ano passado, a minha mãe ainda está viva. Penso assim porque ele comprava-me sapatos para eu ir à escola e nessa altura era muito difícil alguém como nós ter sapatos. Por isso digo que o meu padrasto gostava muito de mim. Eu é que deixei de estudar por maluquice da minha cabeça, a minha cabeça não tinha juízo. Os meus irmãos todos estudaram e são professores. Os meus pais eram religiosos, ambos muçulmanos. Em casa, quem controlava e guardava o dinheiro era o meu pai. Por exemplo, quando eu fiz os ritos de iniciação, foi a minha mãe quem preparou, mas ela teve de pedir o dinheiro ao meu pai. Os meus pais não fizeram parte de nenhuma associação.

Casei-me muito jovem com o meu primeiro marido e depois divorciei-me. Depois da separação, fiquei muito tempo sem querer casar-me. O meu primeiro marido também abandonou-me por ter casado com outra mulher. Tive quatro filhos com ele, dos quais três faleceram. Mais tarde casei-me com o meu actual marido, nessa altura só tinha um filho vivo. O meu segundo marido é camponês e é Shehe, por isso casamo-nos religiosamente. Mas, primeiro, o meu marido e os tios foram falar com os meus pais e pagaram 250,00MZN aos meus pais para poder casar-se comigo.

Deram o dinheiro à minha mãe porque o meu pai já não vivia comigo. Não deram ao meu padrasto por não ser meu pai biológico. Eu tenho uma filha casada. Quando foi o casamento dela, o marido dela deu dinheiro ao meu marido.

Nós usamos o dinheiro para comparar cabritos que temos aqui no quintal. Quando estes cabritos tiverem crias, vou dar uma à minha filha e os outros serão usados para os ritos de iniciação das irmãs. Quando nós morrermos esses cabritos vão ficar com a minha filha, cujo dinheiro foi o marido que nos deu porque são dela.

Ambos somos religiosos, muçulmanos, somos membros da Associação 7 de Abril. Eu é que cuido das crianças, cozinho e cuido da casa. O meu marido ajuda a varrer o quintal, às vezes carrega lenha. Aqui em casa quem guarda o dinheiro é o meu marido, mas quem gasta sou eu. Compro cama, comida e outras necessidades da casa. O meu marido é quem vende os produtos da machamba. Sou muito feliz no meu casamento, amo muito o meu marido, ele não me bate, trata-me muito bem. Se eu ficar viúva não me vou casar novamente.

Na comunidade, eu faço parte de uma comissão de mulheres de gestão de alguns bens comuns, como o poço. Esta comissão é constituída por 18 mulheres. São as pessoas que recebem informações e passam para a comunidade e zelam para que as coisas funcionem bem. O meu marido sensibiliza a comunidade para que rezem, para que vão à mesquita.

Comecei a ir à machamba com cinco anos. A minha primeira enxada foi a minha mãe que me deu. Era uma enxada de bicos que vendiam na loja. Depois as lojas deixaram de vender este tipo de enxada e os ferreiros começam a fazer. A minha primeira enxada era da minha mãe, não era nova. Ela usou e quando ficou gasta deu-me. Usei essa enxada até ficar toda gasta. Contudo, já tive muitas enxadas novas. Tive a minha primeira enxada nova aos 17 anos.

Foi a minha mãe quem comprou para mim. Era de forma de bico, mas comprada na loja. Eu usei até se gastar toda.

Não tinha ainda filhos/as com idade de ir à machamba. Mais tarde, quando tive filhas, eu dei a elas enxadas em forma de bico que eu já tinha usado e estavam gastas, mas nessa altura já não vendiam na loja, só no ferreiro. Quer dizer, o que a minha mãe fez comigo eu fiz às minhas filhas: dar-lhes as enxadas que usei primeiro.

As minhas enxadas novas foram compradas pelo meu marido porque o dinheiro é dele. Eu uso enxadas de ferreiro (bico) e da loja (argola), mas a de ferreiro é que é mais importante, porque foi a que a mãe me ensinou a usar. Esta enxada de ferreiro dá para fazer muitas coisas para além da machamba. Uso para limpar as campas, cortar o capim no mato para cobrir a casa, entre outras coisas. A enxada de argola não dá para fazer esses trabalhos. O pau da enxada é escolhido por mim, mas quem corta e monta na enxada é o meu marido. Por exemplo, quando estamos a voltar da machamba, estamos a andar, eu vejo um tronco que acho que dá para a minha enxada, digo ao meu marido e ele vai e corta o tronco. Eu é que determino a altura do cabo da minha enxada. Eu não monto porque não sei fazer. Eu uso esta altura porque foi a altura que a minha mãe determinou quando me deu a minha primeira enxada. Da mesma forma, a altura que eu determinei para as enxadas das minhas filhas é a que elas usam até agora.

Se eu tiver uma enxada com um cabo mais alto ou mais curto, não vou conseguir usar a enxada. Eu gosto mais da enxada de ferreiro, mas o meu marido é que decide qual é que compra. Para mim, a enxada do ferreiro é a melhor, porque quando compramos com ele podemos negociar o preço e ele baixa, mas na loja o comerciante nunca baixa o preço, não aceita negociar. O ferreiro baixa o preço quando o marido vai ajudar a fazer a enxada, ou quando eu peço por não ter dinheiro, ele compreende o facto e baixa o preço. Também a enxada de ferreiro é mais leve, trabalho
bem, não cansa. A enxada da loja (argola) cansa os braços, é muito pesada e cansa depressa.

Eu nunca pensei em ter um tipo de enxada diferente porque nunca vi nada diferente. Não posso pensar em uma coisa que não vi nem conheço. Gostaria de ver esse outro tipo de enxada, gostaria que houvesse mais ferrereiros para fazerem muitas enxadas para produzirmos muito na machamba, pois teremos muitas enxadas.

Entrevista por Joana Ou-chim 2 .


1 Trechos da história de vida de Cecília Rachide no Projeto de pesquisas sobre o uso da enxada e as condições de genero da Oxfam Solidarité Belgica em Moçambique. Financiado pela Fundação Bill e Melinda Gate. Data da entrevista: 3 de Março de 2014. Localidade Mazeze sede, Distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado. Entrevista feita em Macua por Joana Ou-chim com tradução de Catarina Muamudo Ali.

2 Joana Ou-chim é consultora na area de género e desenvolvimento em Moçambique.

Laurinda Agostinho Ajuma Albano

Nampula


Chamo-me Laurinda Agostinho Ajuma Albano, tenho 26 anos de idade, sou casada e tenho dois filhos ainda menores. Sou membro da Associação Virane Mohené, em Natiquiri, na cidade de Nampula. Eu tenho a minha machamba e a Associação tem machamba-escola, onde aprendemos as diferente técnicas agrícolas. Eu sou primeira vogal da Mesa da Assembleia da União Distrital de Nampula desde 2019.

A minha história na Associação começa com a minha mãe.  A minha mãe é que era membro da Associação e ela convidou-me a entrar e ter machamba. Nessa altura ainda estava a estudar no ensino secundário. Quando me tornei membro, comecei a participar nas formações que os técnicos de Agricultura davam aos membros. Um dia, o técnico, quando se estava a prepara uma feira agrícola, selecionou-me para ajudar a organizar a feira.  A minha tarefa foi de enviar as cartas de pedido de apoio aos Bancos, Empresas e outras entidades. Conseguimos alguns apoios. Dada a minha participação activa, fui eleita como segunda vogal da Mesa de Assembleia há 4 anos, quando se realizou a Assembleia eleitoral da Constituição da União Distrital do Distrito de Nampula. No ano passado, o primeiro vogal pediu afastamento e eu passei a ser a primeira vogal.

Ao logo deste processo, tive dificuldades em conciliar os estudos e as minhas actividades na Associação, mas fui sempre me esforçando por fazer as duas. Quando fiz a 10ª classe, concorri para uma formação técnica, a primeira vez não passei, no ano seguinte concorri outra vez. Desta vez passei, mas sem vaga. Então decidi continuar a estudar. Fiz a 12ª classe. Concorri para o Instituto de Saúde, fiz exame de admissão e passei, mas sem vaga. Fiquei em casa. A minha mãe meteu os documentos em outra instituição de formação técnica, fiz o exame de admissão, mas o meu nome não apareceu na lista. No ano passado, a minha mãe falou com um colega dela que tem um instituto privado de formação de professores, meti os meus documentos e comecei a estudar, até interromper por causa do COVID-19. Estou na formação de professores primários. Comecei o curso em Março do ano passado. O curso tem a duração de dois anos. Durante este tempo todo, estive sempre a participar nas actividades da Associação.

Um dos grandes ganhos para as mulheres em Moçambique, na minha opinião, é o facto de haver espaço para as mulheres trabalharem. Há muito tempo, era muito difícil uma mulher trabalhar. Há muito tempo a mulher casava muito nova, ficava em casa a cuidar do marido, dos filhos e não podia estudar nem trabalhar. Não significa que agora não podemos cuidar do marido e dos filhos, mas há uma grande diferença: podemos estudar e trabalhar, mesmo estando casadas. Isso é bom para as mulheres, porque nos sentimos livres, podemos fazer o que nós queremos no sentido de trabalhar. Claro que há homens que, ainda hoje, proíbem as suas mulheres de estudar ou trabalhar, isso depende do coração que cada um deles tem, mas acho que está a diminuir. Quando vejo estas mudanças sinto-me feliz e orgulhosa por ser mulher.

Apesar destes ganhos, ainda temos problemas de violência. Muitas crianças e mulheres são violadas sexualmente em Nampula. Quando acontece, muitas vezes, as crianças não são ouvidas, outras vezes as crianças não falam porque é muito difícil para elas. As crianças não são ouvidas, porque muitas vezes quem pratica a violência sexual são parentes próximos, um tio, um primo, etc. Quando a criança denuncia, os adultos não acreditam. Em outros casos, as crianças não denunciam porque o violador ameaça “se falares, vou-te fazer isto ou aquilo”. A criança até pensa em denunciar, mas lembra-se da ameaça e cala-se.

O meu sonho como mulher é trabalhar, ter um emprego para ajudar a minha família e os meus filhos para eles crescerem e estudarem bem. Quero ter o meu dinheiro próprio, construir a minha casa melhorada e apetrechá-la com tudo o que eu gosto.

Em relação à situação do COVID-19, sinto-me triste porque está tudo parado. Contudo, acho que tudo vai mudar, é preciso que rezemos muito para isto acabar e continuarmos a trabalhar. Acho que a violência com esta situação aumentou nas famílias, porque todos estão em casa. Antigamente, o marido ia ao serviço, a mulher ficava em casa com as crianças ou ia trabalhar e quando chegavam a casa estava tudo bem. Mas hoje, pai, mãe e filhos estão todos sempre em casa e tem acontecido muitos problemas. Por exemplo: o marido pode receber uma mensagem estranha de uma colega do serviço que a mulher não vai perceber e isso vai criar discussão e até agressões no casal. Também pode ser que a mulher receba uma mensagem que o marido não vai perceber, mesmo que ela tente explicar, ele não vai querer entender.

Maputo, 23 de Julho de 2020

Entrevista por Joana M. M. Ou-chim (1) .
Fotografias de João Albano Zeca Anibal.


(1) Joana M. M. Ou-chim é consultora na área de género e desenvolvimento em Moçambique.


Saminha Jahali

Chamo-me Saminha Jahali, tenho 57 anos, sou casada e sou camponesa. Tenho quatro filhos: três meninas e um rapaz. Perdi cinco filhos/as. Nasci em Tutua (uma aldeia perto de Katapua). Vim viver para Katapua há sete anos. Casei em Tutua, mas o meu marido é de Katupua. O meu pai já faleceu, mas a minha mãe está viva. Tenho três irmãs e dois irmãos. Perdi três irmãos/ãs. Eu sou a segunda filha dos meus pais. Vivo com o meu marido e o meu filho.

O meu pai era miliciano e a minha mãe era camponesa. Eu não estudei, porque nasci no tempo da guerra e mandavam-nos à machamba. Nenhuma das minhas irmãs estudou. Um irmão é que estudou, mas é camponês. Eu, quando era criança, ia à machamba e ajudava a minha mãe com as tarefas da casa: lavar louça, cozinhar, varrer, etc. Os meus pais eram religiosos, muçulmanos, iam à mesquita.

Eles não faziam parte de um grupo de trabalho comunitário. Na minha casa, era a minha mãe quem guardava o dinheiro, mas era o meu pai quem vendia os produtos da machamba. Quando eu era criança, era feliz porque tratavam-me bem, não zangavam muito comigo. Uma coisa de que me lembro é que o meu pai punha-me sempre no colo e eu sentia-me muito feliz e amada.

Casei-me muito jovem, não me lembro quando. Eu é que escolhi, gostávamos um do outro. O meu marido é camponês. Lembro-me que para me casar o meu marido foi à casa dos meus pais com o tio.

Pediu a minha mão ao meu pai e pagou 150,00 Escudos (lobolo/mahari (em macua) = dote). Porque éramos muito jovens quando casamos, tivemos de passar por ritos de iniciação juntos, eu e o meu marido, durante dois anos. Quem fez os ritos foi a minha avó materna e foram feitos em casa, no quintal.

As minhas três filhas já estão casadas e têm filhos/as. O rapaz vive comigo e estuda. As minhas três filhas passaram pelos ritos de iniciação. Quando as filhas tiveram a primeira menstruação, eu fui falar com a minha mãe, que organizou os ritos com as matronas da localidade. Os rapazes fazem dois tipos de ritos: um quando adolescentes e o segundo quando têm o primeiro filho. Neste segundo rito, o rapaz passa a ter um outro nome por passar a ser pai. O meu filho também já fez o primeiro, mas ainda não fez o segundo porque ainda não é pai.

Eu não me lembro quantos anos tinha quando recebi a minha primeira enxada. Sei que era da minha mãe e estava gasta. Foi comprada no ferreiro (de bico). Eu usei essa enxada até se gastar toda. Eu usava a enxada na machamba para sachar 3 , fazer a lavoura, colher e também carregava os produtos para casa. Enquanto eu vivi com os meus pais e era criança, não tive enxadas novas, diziam que era muito pesada para mim. Quando cresci, antes de me casar, a minha mãe comprou-me uma enxada nova. Depois de casar-me, passou a ser o meu marido a comprar. Antes das minhas filhas se casarem eu dei enxadas novas do ferreiro (bico) que o meu marido comprava, mas para o rapaz foi sempre da loja (argola), porque a enxada da loja exige força e o homem tem mais força. Para mim, a melhor enxada é a do ferreiro porque pesa menos. Há outros trabalhos que faço com essa enxada, como tirar areia a abrir cova. Para cortar capim, para cobrir a casa, uso a foice, que também serve para colher arroz.
Foi o meu marido que escolheu e colocou o cabo da minha enxada. Também é ele quem afia porque eu não sei fazer. O cabo da minha enxada é curvo, enquanto o do meu filho e marido é direito, porque o homem abaixa pouco e a mulher abaixa muito. A mulher abaixa muito porque tem menos força, enquanto o homem tem mais força e não precisa se abaixar muito. Podemos ver que a mulher envelhece mais cedo, porque tem menos força.

Eu sou feliz por ser casada, não sofro muito, isto é, o meu marido não zanga comigo. Gosto muito do meu marido, por isso estou com ele até agora. Nunca me bateu, como à vontade sem que ele controle qualquer comida.
Nunca pensei numa enxada diferente para mim, prefiro a do ferreiro, mas agora os ferreiros não têm material para fazer. Gostaria de ter uma enxada diferente, sim, com cabo direito ou curvo. Não uso cabo direito porque acostumei-me, aprendi a pegar na parte de baixo, por isso não consigo mudar agora e eu também ensinei as minhas filhas assim. Aquilo que eu aprendi com a minha mãe, ensinei às minhas filhas.

Entrevista por Joana Ou-chim 2 .


1 Trechos da história de vida de Saminha Jahali no Projeto de pesquisas sobre o uso da enxada e as condições de genero da Oxfam Solidarité Belgica em Moçambique. Financiado pela Fundação Bill e Melinda Gate. Data da entrevista: 4 de Março de 2014 Localidade de Katapua sede, Distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado. Entrevista feita em Macua por Joana Ou-chim com tradução de Vestina Florêncio Vololia.

2 Joana Ou-chim é consultora na área de género e desenvolvimento em Moçambique.

3 Cavar a terra usando sacho; mondar (arrancar ervas daninhas de uma plantação ou de um jardim; desbastar árvore; limpar
retirando o que é prejudicial). Disponível em: www.priberam.pt/sanchar e www.priberam.pt/mondar. Acesso em 20, julho.,2015.


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