5ª edição – Bootcamp: Alianças Feministas


O que aconteceu?

Entre os dias 4, 5 e 6 de Agosto de 2021, realizou-se um circuito do Bootcamp/ Atelier Feminista, intitulado Alianças Feministas, que consistiu em encontros virtuais com a duração de três horas cada e TPCs realizados pelos colectivos com a própria organização. Participaram em média 40 pessoas por sessão, contabilizando a presença de cerca de 30 colectivos (AMMCJ-ROSC, ASCHA, Associação de Mulheres Jovens Líderes, Young Women Leaders, AMPDC, GMPIS, NAFES, AMME, AMUDHF, FORMUCAMU, Associação Feminina de Chiuta, Associação Moçambicana Madalitso, GMJERAC, Associação de Viúvas Teresa Grigolini, ADMN, Ovarana Waxithiana Wampula, FAFI, FOFEN, Muchefa, MULEIDE, Coluas e CABE), dos quais quatro eram WIPs (NAFEZA, LeMuSiCa, Ophenta, Fórum Mulher).


Bootcamp 2021: Alianças Feministas

Inserido no fluxo de reflexão do MEL, o Bootcamp é uma actividade que acontece todos os anos e que reúne os colectivos das regiões sul, centro e norte do país. Para este ano, o seu tema foram as Alianças Feministas e os seus objectivos foram reflectir sobre a prática feminista na gestão organizacional, reflectir e conhecer sobre métodos participativos e partilhar histórias e experiências de como empoderar outras mulheres.

O grupo de reflexão foi constituído por cerca de 43 pessoas de 28 colectivos que se sentem felizes por estarem juntas para aprender e trocar experiências, além de sentirem que precisam de forças e ajuda para enfrentar o contexto difícil da COVID-19, dos conflitos armados, da VBG e das dificuldades económicas.

As sessões foram orientadas por questões centrais e demandaram como TPCs reflexões individuais e organizacionais. As questões orientadoras foram as seguintes:

  • Conectar e reflectir: desafios dos colectivos na prática feminista organizacional
    Quais são os desafios dos colectivos para ter uma prática feminista na gestão organizacional?

  • Reflectir e aprender sobre métodos participativos
    O que são métodos participativos, por que são importantes e quais os exemplos?
    O que é educação popular feminista? Como podemos praticar?

  • Reflectir sobre a experiência das mulheres para empoderar outras
    Por que é importante apoiar e empoderar outras mulheres?
    Como fazer para empoderar outra mulher?


O que é Bootcamp?

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Quais foram as reflexões mais importantes?

DIA 01

O primeiro dia do Bootcamp teve a participação de Graça Samo, activista feminista e Secretária Executiva da Marcha Mundial das Mulheres. Com ela, o grupo reflectiu e debateu sobre a prática feminista do cuidado e a sua gestão nos colectivos. Na reflexão sobre o que é ser feminista, o grupo inumerou características importantes, como não ser machista ou partidária, enfrentar o sistema patriarcal que diz que a mulher é culpada da violência, defender os nossos valores como mulheres e responder às necessidades das mulheres e aplicar a justiça e igualdade de género em todas as questões.

Como práticas feministas importantes, as participantes identificaram a união, o entendimento e o apoio mútuo entre mulheres e colectivos; a solidariedade (puxar umas pelas outras); a visibilidade e a inclusão para abrangência e impacto; a sustentabilidade; a melhoraria e persistência na comunicação; a prestação de contas; um maior investimento em reflexões internas; o esforço de todo o colectivo na aprendizagem; a interação e melhoria das nossas conexões e sinergias com ferramentas como o WhatsApp e o Atelier Feminista do Aliadas em Movimento e a ideia de que nós, Colectivos, temos estilos diferentes de lideranças e tudo depende de nós.


Reflexão: Quais as práticas feministas para a gestão da organização?

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Reflexão: Quais os aprendizados sobre a nossa prática feminista?

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DIA 02

O segundo dia do Bootcamp aprofundou o aprendizado sobre os métodos participativos e feministas. O tema situou-se no contexto do sistema patriarcal, que reproduz a desigualdade de género através de normas sociais e culturais, seja na vida pessoal (casa, bairro), como na vida profissional, limitando a capacidade de agir e a consciência de mulheres e homens. Imposição de papéis sociais, as pressões e opressões que afectam atitudes, percepções e sentimentos que se gravam na mente, no corpo e nos hábitos, na vida pessoal e na vida organizacional foram outros temas debatidos. De maneira geral, a reflexão girou em torno de como o feminismo traz ideias e ferramentas para enfrentar e criar alternativas a este sistema patriarcal.


Quais os princípios para um modelo de gestão democrática com métodos reflexivos e participativos feministas?

Os modelos clássicos de gestão patriarcal reproduzem as normas sociais e as desigualdades dentro de uma organização ao promover hierarquias, competição entre indivíduos, ao não criar um ambiente criativo e seguro e ao não dar um feedback positivo e sim lições de moral. Ao contrário, os modelos de gestão democrática problematizam e buscam inovação e criatividade, criam possibilidades para as mudanças, promovem autonomia e responsabilização com tomada de decisões compartilhadas, apoiam a equipe a reflectir, participar, incluem e negoceiam as diferenças de opiniões, têm uma comunicação clara e permanente escuta num ambiente seguro de trabalho, estimulam pensamentos próprios para encontrar caminhos alternativos para que sonhos sejam realizados e desafiam e questionam as estruturas e sistemas da sociedade que criam barreiras para a igualdade e justiça de género.

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Quais os caminhos para práticas feministas participativas?

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  1. Espaço seguro: é um espaço de confiança para que as mulheres possam falar e debater sobre diferentes visões de mundo: investir no próprio conhecimento e aprendizagem; escutar e gerir frustrações e sonhos; ter acordos claros sobre expectativas e acolher as diferentes opiniões e pensamentos;

  2. Comunicação e negociação: é a estratégia para criar a confiança e escuta sem julgamento: deixar o colectivo definir/ expressar e negociar; ter clareza dos papéis e tarefas a serem realizadas; observar a dominação de líderes e a dinâmica dos grupos;

  3. Provocar o debate: é o caminho da gestão do trabalho de grupo. Ouvir todos os lados, com respeito e honesta curiosidade permite a argumentação e elaboração das ideias: ver o erro como aprendizagem e não algo a ser punido, dar feedback construtivo; questionar sempre fazendo as perguntas “Porquê? Como? O que significa?”, pois o uso de perguntas encorajadoras estimula a curiosidade; questões problematizadoras ajudam a alcançar a visão colectiva; criar estratégias para incluir as pessoas que não conseguem participar no debate;

  4. Cuidar: quem cuida de quem cuida? Como estamos a reinventar-nos no contexto desafiador? Que auto-cuidado fazemos?


DIA 03

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No terceiro e último dia do Bootcamp, foi possível aprofundar o significado das práticas feministas para engajar e apoiar as mulheres. Debateu-se e reflectiu-se sobre vários temas, nomeadamente:

  • Como estamos a liderar processos que cuidam, incluem e empoderam outras mulheres? O que podemos melhorar?

  • Como estamos a gerir o tempo para tomar decisões e incluir as várias vozes? O que podemos melhorar?

  • Como estamos a gerir a comunicação para dar voz e ouvir todas? O que podemos melhorar?


Como avaliamos o processo?

  • Maior desafio do processo de reflexão em formato virtual é o engajamento dos colectivos, superando os limites do acesso com a oscilação da internet;

  • No formato virtual, o esforço de preparação é dobrado, pois é necessário criar diferentes estratégias, muita comunicação e reforço de mobilização;

  • A avaliação final é positiva, a metodologia foi acertada ao usar-se o PowerPoint como suporte para visualizar as sessões, ter grupos de debates, TPCs de preparação e durante os Bootcamps. Os TPCs foram estratégicos para criar o espaço de reflexão de quem participou das sessões com o colectivo. Foi importante simular o que é feito presencialmente: respiração, meditação, exercícios de QGung, momentos de socializar, cantar, poesias, etc;

Os conteúdos: 1) a reflexão sobre a prática feminista na primeira pessoa, no colectivo e no apoio para trazer junto às outras mulheres foi profunda e trouxe exemplos práticos; 2) as participantes já têm mais conhecimento de técnicas e do conceito sobre metodologias participativas feministas; 3) o ponto alto foi a interação com Graça Samo, sobre ser feminista e o cuidado de si e do colectivo como prática feminista de gestão das organizações e do movimento.

Cuidar umas das outras

Gosto de ver como as imperfeições
Do meu corpo me tornam perfeitas
Oh mulher! Mulher Africana! Oh mulher! Mulher Moçambicana!
Como somos tão macias porém
Ásperas e selvagens
Quando precisamos
Como somos capazes de sentir
Como não temos medo de romper
cuidar das dores e saúde
De umas das outras
Oh Mulher! Mulher Africana! Oh Mulher! Mulher Moçambicana!
Só o facto de ser mulher
Dizer que sou mulher
Me faz absolutamente plena, completa e capaz de cuidar umas das outras
Oh Mulher! Do Sul, Centro e Norte
Nos comuniquemos como companheiras
Oh Mulher! Mulher Moçambicana
Cuidemos umas das outras

(AVTG – Cecília)

4ª edição – Teoria de Mudança (TOC)


1. O QUE ACONTECEU?

Aprender com o passado, reconhecer os sucessos, barreiras e dificuldades é o caminho para construir um futuro feminista mais sustentável para os colectivos que fazem parte do WVL ALIADAS.

No âmbito do MEL (Monitoria, Aprendizagem e Avaliação) realizaram-se, entre Fevereiro e Maio de 2021, encontros e reflexões com os colectivos das regiões sul, centro e norte do país. Estes eventos incluíram três encontros regionais onde falamos sobre a Teoria de Mudança (TOC). Realizaram-se também duas importantes reflexões, uma sobre o contexto dos Direitos Humanos das Mulheres e outra sobre a acção das mulheres frente ao COVID-19. Nesta última, analisámos como os colectivos enfrentam a pandemia através da Plataforma Mulheres ComVida. Por fim, em Maio realizámos o TOC Nacional, onde todas as reflexões foram conectadas numa teia de sonhos para o futuro.

O TOC Nacional 2021

Acontecendo uma vez por ano e reunindo as regiões sul, centro e norte, o TOC Nacional deste ano foi realizado entre os dias 13 e 15 de Abril. A facilitação ficou a cargo do ALIADAS e a co-facilitação das WIPs (Ophenta, NAFEZA, Fórum Mulher, Lemusica). Participaram do encontro 26 organizações e colectivos, nomeadamente o Fórum Mulher, AMMCJ-ROSC, ASCHA, Associação Moçambicana de Mulheres Jovens Líderes, Young Women Leaders, LEMUSICA, AMPDC, GMPIS, NAFES, NAFEZA, AMME, AMUDHF, FORMUCAMU, Associação Feminina de Chiuta, Associação Moçambicana Madalitso, Grupo de Mulheres Jornalistas para o Empoderamento da Rapariga e Comunidade de Tete, OPHENTA, Associação das Viúvas Teresa Grigolini, Associação das Mulheres com Deficiência de Nampula, Ovarana Waxithiana Wampula, FAFI, FOFEN, Muchefa, MULEIDE, Coluas e CABE.

Antes de avançarmos na partilha das principais reflexões, aprendizados e próximos passos saídos deste encontro, vamos partilhar sobre o que é o TOC e como este é uma ferramenta importante no exercício de reflexão sobre o trabalho que desenvolvemos.

O que é o TOC?

O TOC (Teoria de Mudança) está inserido no âmbito do MEL – Monitoria, Aprendizagem e Avaliação – e é um exercício de reflexão anual para analisar os resultados, os contextos e os riscos para o alcance do sucesso programático. É um espaço de reflexão para construir um entendimento colectivo em direcção ao futuro, tendo em vista potencializar os resultados do programa. Significa saber o que estamos a mudar, porquê e perceber os obstáculos, de modo a ter a visão do todo, definir o que será feito nacionalmente e como tal fortalecerá o movimento.

Porquê o TOC?

O TOC permite o fortalecimento da articulação e compartilhamento de aprendizado entre as parceiras de implementação do ALIADAS. Fortalece as práticas feministas dos colectivos e movimento para promover a igualdade de género e direitos humanos das mulheres em Moçambique.

Quais os objectivos do TOC?

O TOC tem como principal objectivo analisar o Contexto, os Riscos e os Resultados. Desta forma, o aprendizado feminista será alavancado com este espaço de compartilhamento mais amplo. Adicionalmente, o TOC permite também acompanhar o progresso do programa, sistematizar o aprendizado a ser apresentado no relatório anual do Programa ALIADAS e aprender com as suas próprias intervenções para, assim, melhorar a prática, a qualidade e o impacto.

Qual o significado do que estamos a fazer? Como é que o que está a ser feito contribui para o alcance dos resultados planejados?


QUE DIFERENÇA ESTAMOS A FAZER?

  • A síntese dos encontros de reflexão que antecederam este encontro nacional constitui a base da reflexão sobre se as acções que estão a ser realizadas no Programa estão a ter resultados. As reflexões giraram à volta das seguintes questões:
  • Estamos a alcançar os resultados de ter colectivos com melhor gestão e sustentabilidade? – As organizações têm melhor desempenho na advocacia por direitos e igualdade de género?
  • As plataformas e redes estão a avançar no quadro legal para elevar os direitos de mulheres e raparigas?
  • Houve avanços na participação, inclusão e empoderamento de novas lideranças e colectivos nas nossas acções e advocacia?
  • O conjunto destas acções e os respectivos resultados está a contribuir para um maior resultado do ALIADAS, que é aumentar os direitos humanos das mulheres e raparigas em Moçambique?


O que já fizemos para chegar lá?

Bootcamp, 18-27 de Novembro de 2020
Este Bootcamp teve como objectivos fazer uma reflexão e aprendizado sobre uma gestão com abordagem feminista, criar a cultura de monitoria do contexto (voz e posicionamento para analisar o contexto) e partilhar informação, comunicação e contagem de histórias na plataforma ALIADAS em Movimento.

Resultado: Melhorou a comunicação, aumentou a literacia digital e criou interacção entre os colectivos. O sentimento do grupo é de pertencimento, fala, conexão. Têm mais informação sobre o ALIADAS, sentem-se orgulhosas de superarem os desafios tecnológicos e de acesso ao formato de encontros virtuais e conseguiram romper com as barreiras dos silêncios.

Reflexões: Para que a gestão seja feminista, é necessário haver solidariedade, boa comunicação, capacidade de escutar e de dizer assertivamente o que é preciso para trabalhar bem. Há também a necessidade de aumentar a aprendizagem colectiva e de fazer um guião ou uma pauta com os princípios, valores e orientações sobre o que é uma prática feminista num colectivo.

Questão de reflexão: Que práticas precisamos mudar? Como ter uma gestão para transformar as relações de género?


Mini-TOCs, 25-26 de Fevereiro (Centro), 1-2 de Março (Sul), 3-4 de Março (Norte)

Os objectivos destes workshops regionais foram a partilha, por parte dos colectivos/organizações parceiras do ALIADAS, de visões e sonhos de práticas feministas fortalecidas e de redes e movimentos mais fortes a nível regional e a construção de um primeiro esboço de teoria de mudança a partir das realidades e contexto das parceiras.

As 3 Regiões: Apoiar as jovens líderes feministas e aproximar as jovens e as antigas gerações; avançar a capacitação, reflexão e aprendizagem sobre as práticas feministas na gestão e no funcionamento dos colectivos; criar espaços seguros internos; intercâmbio e trocas de experiência entre colectivos; identificar as boas práticas feministas, etc.

Para fortalecer o Movimento: ter as práticas feministas que levam às acções com outros colectivos e que fazem uma “movimentação”.

Visão de um Movimento Feminista fortalecido nas 3 regiões: se os colectivos e lideranças feministas estiverem fortalecidos, irão fortalecer o movimento.

  • É importante haver sinergias entre os colectivos e uma agenda comum, juntar esforços sobre assuntos comuns, como no Centro que já identificou ‘Género e Emergência” (Covid, mudanças climáticas e conflitos).
  • É preciso identificar as agendas comuns.

Questão de reflexão: O que significa agir nos cantos mais recônditos, tanto ao nível dos colectivos quer do movimento? Como gerir os recursos humanos e materiais? O que é mais estratégico, dispersar ou concentrar e consolidar? Criar mais colectivos, mas como os conectar? Como equilibrar muita acção e muita reflexão e estratégia?


Reflexão sobre Direitos Humanos das Mulheres, 11 de Fevereiro e 9 de Março

O objectivo deste encontro foi reflectir sobre as mudanças necessárias no ambiente de género em Moçambique para o avanço dos Direitos Humanos das Mulheres.

Contexto: Conflitos Armados – COVID-19 – Mudanças Climáticas Empoderamento económico – redução de recursos para as mulheres;

Voz: Quem presta conta às mulheres?

Literacia Digital: a pandemia da COVID-19 expôs o acesso desigual das mulheres às TICs.

Igualdade de género: Assiste-se a um reforço do conservadorismo através da violência que ocorre contra as mulheres e raparigas; fechamento de espaço cívico; aumento da VBG; mulheres passam por violência física e psicológica em seitas.

O que podemos fazer de diferente: Negociar, influenciar e advogar; criar uma cultura em que os órgãos e agentes públicos prestem contas às mulheres; criar um espaço de diálogo permanente.

A mulher tem que estar no centro da discussão da paz e segurança.

Agir sobre os problemas estruturais: terra, poder económico, tecnologia, trabalho do cuidado, justiça, VBG.

Ter um observatório de Direitos Humanos das Mulheres.

Apoiar o agir do Movimento das Mulheres: Aumentar a confiança dentro do movimento feminista; ter estratégias colectivas; sinergias geracionais;

Questão de reflexão: O que podemos fazer de diferente? Como é que as diferentes iniciativas concorrem para a grande agenda sobre os Direitos das Mulheres e a Sociedade Civil?


Reflexão Mulheres ComVida, 23 de Março

O objectivo desta reflexão foi o de analisar o significado e a importância do que foi feito – tanto com os recursos para os projectos contra a COVID-19, como a rede de influência criada com as estratégias virtuais e de advocacia.

Resultados: A acção desta campanha contribuiu, em todas as regiões, para um aumento da consciência para a prevenção e articulou estratégias comunitárias. Vários exemplos demonstraram o envolvimento do governo distrital e provincial para avançar de forma mais sustentável na prevenção e mitigação da COVID-19.

Temas principais: Protecção social, SSR e VBG, incluindo HIV/SIDA, terra em áreas de mineração e trabalho com as populações deslocadas dos conflitos em Cabo Delgado.

O que fez a diferença: Aprender a agir colectivamente numa emergência sanitária.

Questão de reflexão: Num contexto ainda de pandemia, como seguir as acções que foram iniciadas? Com que recursos? Como potenciar a agenda COVID-19/Conflito Armado, Poder económico, Acesso a tecnologia, Terra e VBG?


Quais os avanços do que já fizemos?


Quais as barreiras e dificuldades que impedem o programa de ter bons resultados?


De que forma o contexto nos impede de avançarmos nas nossas actividades e quais as oportunidades para uma gestão feminista e para o Movimento?


Como melhorar a gestão feminista e a sustentabilidade dos colectivos?

  • Incluir diversas mulheres: mulheres com deficiência, raparigas e jovens, idosas, sobreviventes de violência etc., o que contribuirá para a sustentabilidade;
  • Reflectir continuamente de forma a que trabalhemos todas numa perspectiva de igualdade e desconstruir as relações de poder e transformar as normas e práticas culturais negativas. Reflectir como organizações e não como umas a falar em nome das outras;
  • Criar espaços de aprendizagem nos colectivos e no movimento de forma presencial e virtual, através de uma biblioteca feminista, para as mulheres terem mais conhecimento sobre as práticas feministas.
  • Trabalhar a cultura de género nas nossas organizações.


De que forma as acções de cada região contribuirão para fortalecer o movimento?

  • Ter um plano inclusivo ligado a uma agenda comum como movimento, incluíndo focos decentralizados em cada região;
  • Para que o movimento seja inclusivo: mapear e integrar as organizações formais e informais em cada região para se juntarem ao movimento;
  • Em cada região, coordenar as acções, criar sinergias entre organizações de base e organizar encontros regulares e treinamentos, fortalecendo o movimento.


De que forma poderá a advocacia ser mais estratégica em relação ao avanço dos DH em todo o país?

  • Envolver e estabelecer alianças com as estruturas administrativas e políticas ao nível distrital, provincial e nacional nas nossas acções de advocacia;
  • Melhorar a comunicação ao nível das comunidades, usar a língua materna, incluir as forças vivas da comunidade, líderes comunitários, governo, partidos políticos;
  • Reforçar o espaço de diálogos seguros a diversos níveis, entre a sociedade e o governo, dar voz às mulheres, para comunicar com os tomadores de decisão (cartas, posicionamentos), conversas informais e empoderar-se no activismo digital.


Quais as prioridades para 2021/2022?


QUE DIFERENÇA ESTAMOS A FAZER?

Através do Foto-Voz, um método de recolha de informações com o poder da imagem para transmitir sentimentos e resultados de uma acção, demos voz e significado às experiências individuais ou dos colectivos ao capturar as suas realidades quotidianas. Esta técnica, que deixa florescer os sentimentos por trás dos resultados das acções visíveis, permitiu-nos mostrar o que estamos a fazer e o que aprendemos com as diversas actividades implementadas nas três regiões.


Que diferença estamos a criar para o Movimento?

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Que diferença estamos a criar para os nossos colectivos organizacionais?

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Que diferença estamos a criar para nós como pessoas e activistas?

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Quais os próximos passos?

As WIPs deverão fazer o Plano Regional, voltar às três prioridades e escolher duas ou três acções, com as quais farão um quadro que deverá separar o que são compromisos para um colectivo pôr em prática, o que são acções para vários colectivos/região e o que é de coordenação nacional. Além disso, deverão localizar os recursos já nos actuais projectos e o que precisam fazer para buscar novos recursos.

O ALIADAS deverá fornecer assistência técnica para finalizar este Plano até finais de Maio.

Outros passos serão formalizar a agenda do ALIADAS e divulgar para todas e divulgar o relatório e Foto-voz.

3ª edição – BOOTCAMP: FLORESCER IDEIAS E ALIANÇAS

Foi realizado nos dias 18 a 27 de novembro um circuito do Bootcamp/Atelier Feminista em duas rondas de reflexão que consistiu em 4 encontros virtuais de 2h30mim cada e 4 dias para os colectivos realizarem TPCs com a própria organização e interagir no Atelier Feminista.

Participaram, em média, 25 pessoas por sessão, contabilizando no total dos 4 dias a presença de 30 colectivos, dos quais 9 foram Organizações dos Fundos Plurianuais (MYF); 9 foram de Organizações dos Fundos Plurianuais que ainda não receberan fundos (MYF); e 12 foram de Organizações dos Fundos Rápidos (FRF).

Importantes reflexões: para a gestão ser feminista precisa de solidariedade, boa comunicação, capacidade de escutar e dizer assertivamente o que é preciso para trabalhar bem.

O sentimento do grupo é de pertencimento, conexão; sentem-se orgulhosas de superarem os desafios tecnológicos e de acesso ao formato de encontros virtuais; relatam que se sentem bem por terem esse espaço para falar, reflectir, conhecer as companheiras e saber das iniciativas feministas que estão a acontecer no Aliadas.

O Bootcamp aparece como uma oportunidade de ruptura de silêncios e de aprendizagem colectiva.

2ª edição – WVL-ALIADAS LANÇA A PRIMEIRA PLATAFORMA VIRTUAL FEMINISTA, ALIADAS EM MOVIMENTO, A CASA DO MOVIMENTO

Lidia Chongo, Directora Nacional do Género

Realizou-se, a 19 de Novembro, o lançamento oficial da primeira plataforma virtual feminista no país, Aliadas em Movimento, a nossa casa. O evento, realizado na Galeria do Porto de Maputo, contou com as ilustres presenças da Directora Executiva do CESC, da Directora Nacional do Género, da Alta Comissária da República do Canadá em Moçambique e ainda da Coordenadora do Secretariado Internacional da Marcha de Mulheres, das equipes do WVL-ALIADAS e do CESC, da equipe que construiu este espaço, das organizações e colectivos parceiros do Programa e de demais convidados que se distribuíram entre o espaço físico e virtual.

Tendo como Mestre de Cerimónias a jornalista Eva Trindade, o evento iniciou com as boas-vindas da Directora Executiva do CESC, Paula Monjane. Para a Directora Executiva, o Aliadas em Movimento é um espaço virtual para conectar, dialogar, compartilhar, aprender e fortalecer o movimento feminista em Moçambique. Surgido no contexto do Covid-19, que restringiu e até inibiu a comunicação entre as organizações, espera-se que a plataforma se transforme num espaço onde as organizações, grupos de mulheres, redes parceiras e outas colectividades de mulheres interessadas, possam interagir entre si e que este seja um atelier para facilitar debates, formação, reflexão, aprendizagem e partilha de afectos, imagens, histórias e vivências escritas e visuais. Espera-se, também, que esta plataforma crie um espaço de aprendizagem e possibilite o estabelecimento de sinergias e colaboração entre as organizações, grupos e mulheres em forma de trabalho em rede, tornando-se cada vez mais relevante como espaço seguro de articulação e definição de agendas e prioridades para o movimento de mulheres, para além de convergir as redes locais, nacionais e também internacionais, onde acções feministas se multiplicam.



Para Caroline Delany, Alta Comissária da República do Canadá em Moçambique – financiador do Programa WVL-Aliadas -, a criação desta plataforma é importante para reaproximar e conectar pessoas e organizações, assim como partilhar e fortalecer o movimento feminista em Moçambique. Destacando o “novo normal” como contexto de criação desta plataforma, o seu objectivo é exatamente o de resgatar a ligação, trazer de volta o diálogo e difundir o movimento feminista em Moçambique. Como iniciativa do Aliadas, que trabalha para reforçar as organizações e movimentos locais de defesa dos direitos das mulheres em Moçambique, espera-se que a plataforma ajude a estimular um movimento feminista moçambicano vibrante. É exatamente por causa deste movimento e do acervo de defensores dos direitos humanos das mulheres, que inclui o Governo de Moçambique, que se tem vindo a registar importantes progressos, como a aprovação de importantes leis relacionadas com os direitos das mulheres e raparigas, incluindo as relacionadas com o acesso ao aborto, benefícios no casamento civil, herança e a proibição e penalização das uniões prematuras. Neste sentido, concluiu a Alta Comissária, espera-se entusiasticamente que a plataforma virtual, que não tem fronteiras, ajude a alargar as possibilidades de interacção, colaboração e aprendizagem mútua entre as organizações que compõem o movimento feminista a nível nacional e global.

Finalizando a lista de ilustres convidadas, Lídia Chongo, Directora Nacional do Género, mencionou a igualdade de género como prioridade do governo, enfatizando que o Programa vai ao encontro destas prioridades.

Após estas notas iniciais, de boas-vindas e de abertura do lançamento, foi a vez de Catarina Casimiro Trindade, da equipe de criação do site, guiar a plateia (presencial e virtual) através de uma viagem pela Plataforma, apresentando-a, descrevendo cada secção e explicando a inspiração por trás de cada imagem, cor, palavra e ilustração. É importante destacar que esta é, antes de mais, uma plataforma virtual feminista, ou seja, um espaço de inclusão, diversidade, participação e solidariedade, onde as mulheres se apoiem e cuidem de si e do colectivo dos feminismos moçambicanos, de liberdade de escolha, autonomia e respeito mútuo. Ou seja, uma “casa virtual dos movimentos”, um lugar seguro, animado, leve, que inspire curiosidade e o desejo de estar juntas, um lugar de voz e de participação. Um lugar para contar histórias, de mulheres que nos inspiram e sobre os feminismos e o movimento de mulheres em Moçambique.



De seguida, foi a vez de Cecília Matine, diretamente da sede da Associação de Viúvas Teresa Grigolini em Nampula, partilhar com os presentes as suas impressões como usuária da plataforma. Cecília avaliou o espaço como uma casa, a sua casa, a nossa casa. Uma casa onde, quem nela entra, deve atentar-se a alguns requisitos: reconhecer a casa, ter a chave da casa, conhecer os seus compartimentos e identificar-se com ela. Esta é uma casa que deve ser partilhada por todas as mulheres, como plataforma. Cada inquilina deve ter a chave, conhecer e sentir-se em casa. No entanto, Cecília lembrou que há ainda imensos desafios no que diz respeito ao uso de tecnologias. Muitas organizações feministas, formais e informais, não dominam as funcionalidades das tecnologias no seu todo, existem imensas limitações no uso, nas motivações, assim como falta de interesse, desconhecimento das vantagens do uso, baixa escolarização, falta de tempo, vergonha, medo e baixa auto-estima. Neste sentido, Cecília apelou para que o espaço seja cuidado com muito carinho, criando mecanismos de inclusão de todas as mulheres, organizações, independente do seu status social. Ultrapassando esses obstáculos, as mulheres terão as ferramentas, as chaves e o acesso a essa casa. É necessário, assim, apostar e apoiar as mulheres e organizações que necessitam de formação e de capacitação para o uso de ferramentas tecnológicas.

Dando continuidade à viagem pela plataforma, coube a Solange Rocha, coordenadora da equipe de criação e conectada diretamente de Cape Town, apresentar um dos compartimentos mais importantes desta casa, o Atelier Feminista. Solange começou por afirmar o quão significativa é esta plataforma, não só para o movimento feminista moçambicano, mas também para o movimento feminista de todo mundo, por ser uma plataforma que consegue conectar o activismo, a produção e principalmente a fala das mulheres. Entrando na descrição do espaço privado da casa, Solange explicou que este é o lugar da formação, onde as parceiras do Aliadas podem interagir, reflectir e trazer as suas questões para aprofundar. É um espaço que carece de cuidados especiais de segurança, para que os conteúdos produzidos e partilhados entre as mulheres não saiam de qualquer forma. Como espaço de produção de conhecimento, o seu grande objectivo é a monitoria, a avaliação e a aprendizagem, sendo este último muito importante. Este espaço é constituído por três elementos, nomeadamente o Nós Podemos, o Nós em Movimento e o Cuidando de Nós. O primeiro é o espaço da reflexão, constituído por bootcamps que acontecerão em média três vezes por ano e onde se fará o acompanhamento das organizações, um espaço de reflexão e aprendizagem, onde as parceiras se conectam, aprendem com os erros e melhoram e aprofundam formas de gestão feministas. O segundo espaço foi criado para se reflectir e recolher os aprendizados da teoria da mudança e as interacções acontecerão através da plataforma Zoom. Finalmente, o terceiro espaço é o espaço do cuidado, pois aprendemos com o feminismo que precisamos nos cuidar e aqui serão partilhadas sugestões de auto-cuidado. Produto de tudo o que é importante e que precisa ser partilhado com a generalidade dos usuários da plataforma, a Revista MEL será um apanhado dos principais conteúdos do Atelier Feminista. Solange terminou a sua participação lembrando que fazer esta página foi uma aventura, a aventura dentro da aventura, contando um pouco como foi germinando esta ideia, os caminhos seguidos e a constituição da equipa que teve como resultado esta casa que hoje lançamos



Como forma de colocar em prática uma das secções mais importantes da nossa casa, a Aliança de Pensamentos, foi organizada uma pequena conversa internacional, comandada por uma das referências do movimento feminista moçambicano, Graça Samo. Com o tema “o poder do activismo digital”, esta conversa semi-presencial e semi-virtual teve a participação da activista feminista moçambicana e pesquisadora do Programa Muva Shaísta de Araújo, da feminista e activista angolana do colectivo de mulheres Ondjango Feminista Leopoldina Fekayamãle e ainda da feminista e activista brasileira, militante do movimento negra e do colectivo Periféricas Thiane Barros. Shaísta começou por fazer uma rápida apresentação sobre o Projecto Muva, que trabalha para o empoderamento económico das mulheres e partilhou alguns resultados do estudo do Projecto MuvaTech sobre promoção para o acesso e uso do digital. Segundo o estudo, há ainda bastante desconhecimento e medo em relação aos meios tecnológicos e uma discrepância no acesso entre homens e mulheres. Shaísta terminou a sua intervenção destacando uma proposta para seguirmos juntas num activismo digital pleno, que é continuar o activismo para o acesso de todas as mulheres, para o uso promissor das redes, para o conhecimento dos seus direitos.

Directamente do sul de Angola e conectada conosco via Zoom, Leopoldina falou um pouco sobre o colectivo de mulheres do qual faz parte e que acontece principalmente no espaço virtual, tendo como principal foco uma jornada de activismo pelos direitos das mulheres e a ocupação do espaço virtual para massificar um discurso feminista e abordar os direitos das mulheres numa perspectiva feminista. O colectivo organiza uma série de actividades físicas, com a força dos contactos do espaço virtual. As alianças criadas visam mobilizar e conectar por meio do espaço virtual. A título de exemplo, Leopoldina relatou a mobilização maioritariamente virtual e realização de uma grande marcha pela despenalização do aborto, que teve êxito.

Por fim, Thiane Barros falou um pouco sobre o colectivo Periféricas, baseado num activismo digital destinado a levar um pouco dos conhecimentos e cuidados digitais para jovens da periferia de Salvador e outras regiões do Brasil. Relatou ainda várias outras experiências de activismo digital no país, cujo principal interesse é o cada vez maior acesso das mulheres aos seus direitos e ao uso equitativo e de qualidade da internet, experiências essas que acabaram invadindo as ruas. Thiane terminou a sua intervenção destacando o papel importante das redes e a necessidade de criá-las e fortalecê-las, trazendo as manifestações políticas para este meio.

A famosa foto em grupo com todas as presentes



Por fim, Fidélia Chemane, Directora do Programa WVL-Aliadas, procedeu ao encerramento e agradecimentos finais deste que foi um dia especial e importante para a nossa casa. Fidélia enfatizou que esta viagem está só a começar e que só se vai concretizar e ser celebrado, se todas nós estivermos juntas. Lembrou ainda que o Aliadas sempre se fez com a contribuição e o entusiasmo de amigas, que ajudaram a construir esse projecto. Agradecendo a essas amigas e reconhecendo o seu empenho, Fidélia deu por encerrado o lançamento enfatizando que esse é o espírito que deseja que prevaleça e convidando todas e todos os presentes para uma pequena confraternização.

Não podemos deixar de destacar a presença e contribuição artística e cultural de Melita Matsinhe, que nos brindou com momentos musicais ao longo do lançamento, e de Eliana Nzualo, com a sua poesia. Um agradecimento especial também a toda a equipe técnica e de logística, que possibilitou um evento sem percalços.

Leia a 1ª edição sobre a criação da Plataforma Aliadas em Movimento e o Bootcamp Tech.

REVISTA AFECTOS E MEMÓRIA


HISTÓRIA DE MULHERES ALIADAS (E UM HOMEM) NUMA AVENTURA FEMINISTA TECH


Março: o inicio da jornada

Solange em viagem de trabalho em Maputo encontra Fidélia e Valuarda para criarem o futuro processo de formação feminista e reflexão TOC e MEL.

Fi e Val são feministas que estão a gerir o programa feminista WVL-Aliadas com o recurso de um governo pró-feminista canadiano. Combinação poderosa e grande oportunidade!

Sol, que é feminista brasileira, foi da equipa do baseline e mapeamento na fase inicial do Programa Aliadas. Estava a ler a tese de PhD da Catarina porque foi convidada para ser júri na sua defesa de doutoramento. Sol conhece Cat, mas nunca se encontraram.

Chegam os ventos índicos anunciando que aquele COVID-19 da distante China, que estava a fazer chorar a Europa, agora ameaçava chegar às nossas vidas no sul da África. Sol facilitaria a primeira actividade programada para dali a 5 dias … que foi adiada por causa do COVID-19.

Aeroportos e fronteiras vão fechar, corre Sol pra casa na África do Sul.

E agora? Val e Fi, com a experiência de serem feministas, dizem “vamos nos adaptar e criar oportunidades”.

Sol, Val e Fi: tchau, se cuida, seguimos falando.

Semanas de adaptações depois…

BOOTCAMP PILOTO: REFLEXÃO FORMATIVA SOBRE O USO DA TECNOLOGIA

Convite para Bootcamp Piloto

A história que narramos na primeira parte desta edição mostra como a Aliadas em Movimento foi criada como resposta às imposições do COVID-19, para ser uma plataforma feminista que visa fortalecer dinâmicas do feminismo em Moçambique e ser um espaço seguro de partilha, cuidado, desabafo e aprendizagem entre os colectivos parceiros do projecto Women’s Voice and Leadership ALIADAS (WVL – ALIADAS)

Foi com o objectivo de apresentar, testar e aprender a usar esta plataforma, assim como debater sobre os usos das tecnologias por parte das mulheres (seus desafios e possibilidades), que se realizou entre os dias 29, 30 e 31 de Julho o primeiro Bootcamp Tech do Aliadas, totalmente online. O evento contou com a participação da equipe técnica de criação da plataforma, da equipe do Aliadas e teve como público alvo as parceiras de implementação e amigas críticas do projecto. Os três encontros tiveram cerca de duas horas de duração, ligando várias partes de Moçambique ao Brasil e à África do Sul.

Chamamos Bootcamp a uma acção concentrada com várias actividades. No nosso caso, o Bootcamp representa um encontro virtual para fins educativos e reflexivos do Programa Aliadas. Aguardem os próximos encontros em Setembro e Outubro

Durante os três encontros, as parceiras tiveram a oportunidade de interagir com a equipe técnica e umas com as outras, de forma a conhecer a plataforma em todos os seus detalhes, explorar as diferentes secções e espaços de interação e experimentar as suas potencialidades e ferramentas. Foram dias de bastante aprendizado, de tirar dúvidas, de conhecer ao pormenor esta plataforma e as suas potencialidades e, principalmente, de discutir formas de a melhorar, tornar mais acessível e acolhedora.

O encontro, além de educativo e reflexivo, possibilitou que as participantes realizassem vários exercícios de balanceamento de energia, inspirados nas técnicas orientais de Qi Gong e Jin Shin Jyutsu, que foram muito bem vindos. Pudemos também festejar, cantar, declamar textos e poesia e festejar este que é um espaço seguro e de cuidado, onde todas estão juntas.

As participantes tiveram a oportunidade de responder a uma pesquisa de opinião realizada no início e no final do nosso primeiro Bootcamp. Uma parte das perguntas requeria que as participantes dessem respostas de 0 a 10 (em relação ao nível de conhecimento sobre temas específicos) e a outra que respondessem por extenso. Os resultados referentes à pesquisa no primeiro dia mostraram que a maior parte das participantes tem um conhecimento médio de tecnologias, tem um nível de conhecimento acima da média em relação ao projecto Aliadas e sobre o feminismo em Moçambique. Em relação às potencialidades de aprendizagem com o Bootcamp e o website, as participantes manifestaram o desejo de não só aprender a usar as tecnologias em todo o seu potencial – como ferramenta para um melhor e mais forte e coeso activismo feminista digital -, mas também trocar experiências e conhecer melhor os trabalhos umas das outras.

No final do nosso Bootcamp, voltaram a fazer-se as mesmas perguntas com respostas de 0 a 10, tendo os resultados sido ligeiramente diferentes dos iniciais. As participantes mostraram ter adquirido um pouco mais de conhecimento acerca das tecnologias, assim como acerca do projecto e do feminismo em Moçambique. O que mais tocou as participantes, em relação ao Bootcamp, foi o interesse de todas pelo uso das tecnologias e a quebra de barreiras no seu uso, a união das mulheres, a criatividade da equipe que criou o site e as ferramentas disponíveis nele e a partilha de experiências. Em termos de aprendizado, as participantes relataram ter percebido o poder das tecnologias para o dia a dia do activismo, assim como a força da união entre as mulheres e a troca de experiências. Em relação ao que pode ser melhorado, as participantes mencionaram a necessidade de maior prática e testagem da página, assim como uma atenção especial às companheiras que apresentam maiores necessidades de acesso a estes meios e que requerem literacia digital.

Primeiro dia do bootcamp

No primeiro dia, depois de cada participante se apresentar e falar um pouco de si – e de termos sido guiadas pela Solange Rocha, coordenadora da equipe técnica, em alguns exercícios de respiração e auto-conhecimento do corpo -, a Fidélia Chemane, directora do Programa WVL-ALIADAS, fez uma apresentação da plataforma e de como surgiu a ideia de a criar. Facilitado pela Solange, seguiu-se um debate sobre o nosso conhecimento das tecnologias, quais as dificuldades e expectativas em usar a plataforma, assim como sobre os significados de uma interacção e criação de espaços de reflexão no virtual.

As participantes destacaram as vantagens e potencialidades do virtual, nomeadamente a possibilidade de conectar mulheres de diferentes países ou províncias e de tornar visível o trabalho de cada colectivo. No entanto, a qualidade dos meios tecnológicos e dos recursos para aceder a eles, assim como os custos de internet e a dificuldade de acesso, foram obstáculos destacados. As parceiras destacaram a importância da plataforma na disseminação de informação, nomeadamente o histórico das organizações da sociedade civil moçambicana e a linha de tempo com os principais marcos do movimento, assim como a facilidade de acesso a várias produções feministas moçambicanas. A imagem da plataforma, colorida e acolhedora, foi também destacada.

O fim deste primeiro dia de encontro foi agraciado com a declamação de uma poesia de José Régio intitulada Cântico Negro, pela Valuarda.

Segundo dia do bootcamp

O segundo dia do nosso Bootcamp, facilitado por Catarina Trindade (membro da equipe técnica da plataforma), centrou-se num importante debate acerca do poder das tecnologias para as mulheres e contou com a participação de três profissionais cujas trajectórias estão ligadas ao mundo tech, nomeadamente Shaísta de Araújo, do MuvaTech, Alessandra Paes (web designer) e Aieda Freitas (programadora), integrantes da equipe técnica da plataforma.

Além de partilharem as suas trajectórias e falarem das possibilidades e desafios que o mundo tech oferece às mulheres, as três convidadas animaram o debate sobre como as ferramentas tecnológicas podem fortalecer o trabalho das organizações parceiras, ajudando a dinamizar as suas actividades, fortalecer o activismo feminista digital e a partilha de boas práticas e desafios. Admitindo o poder e importância que as tecnologias têm actualmente, e como estas têm vindo a modificar a forma como nos movimentamos, algumas das participantes partilharam as suas preocupações em relação ao facto de Moçambique ser um país com muitos desafios no que respeita ao acesso a estes meios. A falta de conhecimento sobre o uso das tecnologias – aliada a uma fraca e limitada educação básica – dificulta o processo de aprendizagem, principalmente para as mulheres, o que é agravado pelo custo dos dispositivos (celulares, computadores, entre outros) e do acesso à internet, sem contar que boa parte das moçambicanas não tem acesso à electricidade, essencial no uso destas ferramentas. Os desafios aumentam consideravelmente nas zonas rurais.

Para as participantes, pensar no uso de tecnologias e ferramentas digitais mais acessíveis que permitam às mulheres não apenas fazer activismo digital, mas também estarem mais conectadas e ouvir as vozes de outras mulheres, implica na mobilização por direitos e políticas públicas em termos de acesso à internet e meios tecnológicos. É uma oportunidade para os colectivos de redesenhar planos de advocacia pelos direitos das mulheres que incluam o seu direito de acesso à internet, assim como em formas de apropriação destas ferramentas nas formas de actuação dos diversos colectivos. Lutar, pressionar e advogar por estes direitos significa tornar acessível às mulheres informação sobre os seus direitos, sobre situações de violência e expô-las cada vez mais a uma rede de apoio entre mulheres de origens e trajectórias diversas.

Terceira dia do bootcamp

O terceiro e último dia do nosso primeiro Bootcamp começou com uma pequena apresentação de Valuarda Monjane, gestora de reforço institucional do WVL-ALIADAS, sobre a importância desta plataforma e de como ela pode ser um espaço importante de trabalho colectivo. O tempo restante foi dedicado a uma reflexão sobre os dois dias anteriores, destacando-se os principais desafios e possibilidades do trabalho em plataforma, assim como a uma maior prática das ferramentas da plataforma, de forma a percebermos o que funciona, o que precisa ser melhorado e quais as principais percepções das participantes em relação à utilidade da plataforma. Foi pedido a cada participante que entrasse na página e explorasse as suas diversas ferramentas e secções, assim como que preenchesse uma pesquisa de opinião e partilhasse o que aprendeu e como podemos melhorar a plataforma. A maior parte das participantes elogiou bastante o espaço virtual, destacando o seu visual, a sensação de acolhimento, a sua utilidade e poder. Foi destacada a necessidade de tornar a página acessível e inclusiva para pessoas com deficiência, algo bastante importante.

Como não poderia deixar de ser, os nossos três dias de reflexões, partilhas e aprendizagens foram encerrados com uma apresentação de talentos, onde a Valuarda declamou brilhantemente um poema de Noémia Souza intitulado Deixa Passar o Meu Povo, e uma activista da ASCHA emocionou a todas com a narração de uma história. Para além disso, tivemos direito a um pequeno momento de descontracção, regado a música e dança e a um brinde a todas as mulheres maravilhosas que aceitaram juntar-se a esta aventura!

Comemoração e brinde!
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