A Associação Sociocultural Horizonte Azul (ASCHA) realiza o Fórum Provincial de Reflexão sobre Direitos Humanos das Mulheres, Mulheres Jovens e Raparigas, Igualdade de Género e Violência Baseada no Género, Feminicídio, no contexto de Beijing+30 e da Agenda 2030.
Dados da Campanha Sou Ntavase, promovida pela ASCHA no âmbito da iniciativa Levante Nacional Contra a VBG e o Feminicídio, secretariada pela ASCHA, Visão Mundial, OXFAM Moçambique, ROSC, FDC e MídiaLab, indicam que cerca de 260 mulheres foram vítimas de feminicídio entre 2022 e 2024.
O Observatório das Mulheres contabilizou mais de 30 assassinatos de mulheres apenas no primeiro trimestre de 2024.
É neste contexto que a ASCHA, uma das organizações seleccionadas e parceiras do Programa WVL–ALIADAS, realiza este Fórum como um espaço de partilha, diálogo e construção colectiva, com vista à promoção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A iniciativa reforça o compromisso da ASCHA e do Programa WVL–ALIADAS com a promoção de políticas públicas sensíveis ao género, o fortalecimento da liderança feminina e o enfrentamento das causas estruturais da violência e do feminicídio em Moçambique.
O evento pretende também impulsionar acções de advocacia que contribuam para transformar práticas institucionais, atitudes e valores que perpetuam a violação dos direitos humanos das mulheres e raparigas, bem como a desigualdade de género, a insegurança, a violência política e a exclusão da participação cidadã e política nos espaços públicos e privados.
O Fórum decorre nos dias 22 e 23 de Outubro de 2025, em Maputo, e conta com a participação de diversas individualidades, com destaque para a Directora Nacional do Género e Acção Social, Seana Daúde, em representação do Governo; a Directora do Programa WVL–ALIADAS, Paula Monjane; e Maria Carolina da Silva, representante da World Vision, em nome das parcerias da sociedade civil.

Paula Monjane, Directora do Programa WVL–ALIADAS, parceira técnica e financeira estratégica do evento, reconheceu a coragem, o contributo exemplar e a dedicação da ASCHA na luta pelos direitos humanos das mulheres e raparigas, num contexto desafiante e, por vezes, agressivo como o de Moçambique.
Reconheceu, igualmente, que, apesar dos esforços colectivos da sociedade civil e dos movimentos de mulheres, a violência baseada no género (VBG) continua a afectar gravemente mulheres e raparigas, tanto em Moçambique como no mundo. Persistem situações de assédio sexual nas escolas, uniões forçadas e prematuras e violações dos direitos das mulheres em contextos de conflito, como em Cabo Delgado.
As barreiras legais e estruturais, como a falta de informação, o fraco acesso a serviços de saúde e justiça, e a impunidade que perpetua ciclos de exclusão e desigualdade, tornam muitas mulheres ainda mais vulneráveis.

Para Paula Monjane, é urgente visibilizar as vozes das mulheres e as dificuldades que as afectam de múltiplas formas, definindo acções concretas que respondam às suas inquietações na diversidade dos seus contextos.
“O momento actual exige de nós consciência, vigilância e solidariedade.
Não precisamos de pensar todas da mesma forma, mas é fundamental reconhecer que o exercício dos direitos das mulheres está em causa. É tempo de agir colectivamente para transformar esta realidade e garantir que nenhuma mulher seja deixada para trás.”
Acrescentou ainda que é essencial reconhecer as reformas legais em curso, garantindo que respondam efectivamente às necessidades das mulheres e que não comprometam os avanços e conquistas históricas alcançadas ao longo de décadas de luta feminista e batalhas legais.

Em representação do Movimento das Jovens Revolucionárias da ASCHA, Felicina Chiluvane ergueu a voz em nome da vida, liberdade e dignidade das mulheres e raparigas moçambicanas.
Exigiu um país seguro, onde mulheres e jovens possam circular sem medo de ver os seus corpos invadidos ou tomados de assalto pelo simples facto de serem mulheres.
“Estamos aqui para romper o silêncio e dizer basta à violência que nos mata, nos cala e tenta apagar os nossos sonhos.
Vivemos uma crise nacional de violência de género que exige resposta urgente.
Não podemos continuar a normalizar o medo que persegue as raparigas nas ruas, nas escolas, nos transportes e até nas suas próprias casas.
Queremos uma justiça que proteja e não silencie, uma sociedade que eduque e não culpe as vítimas.
Queremos um país onde as meninas cresçam sem medo, com voz, empatia e liberdade; onde a vida seja mais forte que o ódio e o respeito mais forte que a violência.”
Em nome das jovens revolucionárias, Chiluvane afirmou que o grupo continuará a exigir um mundo onde as mulheres jovens não precisem pedir permissão para existir, deixando de ser objectos do patriarcado para se tornarem sujeitas políticas, donas das suas narrativas e das suas escolhas.
“Prometemos continuar a luta por todas as que vieram antes de nós, as que resistiram e as que partiram. Nenhuma será esquecida. Continuaremos a batucar, marchar e gritar até que viver em Moçambique deixe de ser um acto de coragem e passe a ser um direito.”
A ASCHA é uma organização feminista moçambicana que actua na defesa dos direitos das raparigas, na promoção da igualdade de género e no combate à violência baseada no género.
É parceira do Programa WVL–ALIADAS desde 2020 e integra o grupo de 12 organizações seleccionadas no Concurso para Financiamento Plurianual a Colectivos, Redes e Organizações de Mulheres, no âmbito do Programa Voz e Liderança das Mulheres Renovado, cuja implementação decorrerá até 2029/2030.
O Programa Women’s Voice and Leadership (WVL–ALIADAS) é uma iniciativa de reforço de capacidades de colectivos de mulheres, financiada pelo Global Affairs Canada (GAC), que materializa o compromisso do Governo do Canadá com a promoção dos direitos das mulheres e da igualdade de género nos países do Sul Global.
Entre 2019 e 2024, o CESC assumiu a responsabilidade pela sua implementação em Moçambique, fortalecendo movimentos feministas e ampliando a sustentabilidade e influência das organizações lideradas por mulheres no país.









































