SOU NTAVASE: Fui violada e exijo justiça

Foi lida hoje (dia 27) a sentença do caso Ntavase, a menina de 10 anos violada por um adulto de 36 anos. A justiça foi feita para Ntavase. 24 anos de prisão maior e multa de 150 mil meticais de indemnização é a sentença dada ao violador.

#exijocuidados
#exijojustiça
#stopviolenciadegenero
#StopFeminicidio
#geracaoigualidade
#ASCHA
#WLSAMoçambique
#ROSC

Para saber mais sobre a campanha, veja:

https://aliadasemmovimento.org/site/?p=2567

https://www.facebook.com/aschamz/videos/3935514133130520

https://www.facebook.com/aschamz/videos/347103709746875


Tribunal

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Campanha

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O Centro de Aprendizagem e Capacitação lançou a Fase II do Programa WVL–ALIADAS

“Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres.”

É com este grito de guerra que mulheres, representantes de várias organizações da sociedade civil, colectivos e movimentos feministas deram início ao evento de lançamento da Fase II do Programa Women’s Voice and Leadership (WVL) – ALIADAS, uma iniciativa implementada pelo Centro de Aprendizagem e Capacitação (CESC), em parceria com o Governo do Canadá.

O evento decorreu na última Quinta-feira, 10 de Julho, em Maputo, na Galeria do Porto, e contou com a presença do Secretário de Estado do Género e Acção Social, Abdul Razak Amuzá Esmail, em representação do Governo de Moçambique, e da Alta‑Comissária do Canadá em Moçambique, Sara Nicholls.

Fazendo uma retrospectiva e deixando vincar a sua perspectiva em relação à iniciativa, Fidélia Chemane, Directora‑Executiva do CESC, implementadora do programa, considera motivo de orgulho os ganhos alcançados em cinco anos de sua implementação, tendo destacado, a título de exemplo, a criação da Feira Económica Solidária, a promoção de acções de alívio ao trauma (implementadas em Cabo Delgado para mulheres em zonas de conflito armado), o apoio a mulheres deslocadas e as campanhas como a Humaniza Moz (contra a violência obstétrica) e Ntanvasse.

“Hoje, cinco anos depois, estamos felizes por termos impulsionado iniciativas de lei, campanhas de advocacia e discursos concretos, como o Observatório do Feminicídio, entre outras acções realizadas de forma conjunta com as parceiras do ALIADAS”, afirmou.

Sobre as perspectivas desta segunda fase, Chemane frisou que o ALIADAS manterá a ambição de continuar a apoiar a capacidade de gestão das organizações de mulheres, com foco no fortalecimento institucional, no estímulo a acções colaborativas e no estabelecimento de uma dinâmica feminista vibrante à escala nacional.

Para esta etapa, o ALIADAS estará, igualmente, atento à situação das mulheres no contexto do conflito armado em Cabo Delgado. Tomará, referiu a fonte, medidas para garantir que elas, na sua diversidade, participem de forma engajada e que as suas vozes sejam ouvidas nos processos de paz e resolução de conflitos à escala nacional.

O programa, embora reconheça não ter ainda respostas definitivas ao fenómeno, estará atento aos efeitos nefastos das mudanças climáticas e continuará a trabalhar com todas as mulheres para formar uma sociedade baseada em relações de género igualitárias.

O WVL–ALIADAS é uma iniciativa implementada pelo CESC para a promoção e fortalecimento do movimento feminista e para o aumento da influência e da sustentabilidade de organizações ou colectivos liderados por mulheres a nível nacional.

A fase I do programa (2019–2024) financiou 57 organizações feministas que actuam em áreas como direitos sexuais e reprodutivos, violência baseada no género, liderança política de mulheres e justiça económica, elevando o seu papel na formulação de políticas públicas e visibilizando as vozes de mulheres marginalizadas.

A fase II (2025–2030) representa o compromisso do CESC e do Governo do Canadá com a liderança das mulheres enquanto elemento central para a construção de sociedades justas, resilientes e inclusivas. Introduz melhorias inspiradas nas lições aprendidas na primeira fase e consolida o compromisso com um feminismo interseccional, enraizado nas realidades locais.

Esta fase aposta, também, na descentralização do movimento feminista, no fortalecimento de lideranças jovens e locais e na inclusão de grupos historicamente marginalizados, como mulheres com deficiência, pessoas LBQTI+ e defensoras de direitos humanos.

Por seu turno, Sara Nicholls, Alta‑Comissária do Canadá, reafirmou o compromisso do seu país em apoiar a igualdade de género e o empoderamento das mulheres, pois considera que esta é uma das vias que permitem construir um mundo mais pacífico e inclusivo e próspero.

“Como parte dessa renovação, temos o prazer de reafirmar o nosso compromisso de trabalhar lado a lado com organizações locais de direitos das mulheres em todo Moçambique, para continuarmos a criar espaços de advocacia coordenada. Trabalhar desta forma garante que as mulheres e raparigas, em toda a sua diversidade, estejam no centro dos esforços para reduzir a pobreza e a desigualdade e para impulsionar o progresso em todos os sectores, incluindo a construção da paz, o activismo ambiental, o empoderamento económico e a defesa dos direitos humanos.”

Para Sara Nicholls, mais do que um mero lançamento ou transição de fase, o evento renova a confiança e o reconhecimento do impacto positivo do programa ALIADAS na vida das mulheres. Contudo, entende que, apesar das conquistas da primeira fase, a luta pela igualdade de género ainda está longe de terminar e garantiu que o seu Governo continuará a oferecer apoio inabalável às organizações de direitos das mulheres e aos movimentos feministas, especialmente em contextos de crise e conflito, bem como à criação de espaços seguros para mulheres, raparigas e aliadas LBQTI+, onde estas podem expressar‑se livremente, aceder a recursos e construir redes de apoio.

Do lado do Governo de Moçambique, Abdul Razak Amuzá Esmail, Secretário de Estado do Género e Acção Social, espera que esta fase seja um mecanismo de partilha de informação e colaboração, de modo a possibilitar uma gestão transparente e sustentável das organizações locais, bem como a eficácia das redes nacionais, por forma a influenciar a adopção de boas práticas no empoderamento da mulher e da rapariga.

O dirigente espera, ainda,que o programa contribua para uma melhor percepção dos fenómenos nocivos ao desenvolvimento das mulheres e para a identificação, de forma participativa, de respostas às diferentes preocupações da sociedade.

TocCast- Aliadas em Movimento: Caminhos Trilhados e Horizontes para o Futuro

Principais constatações

Sob a moderação de  Alima Hussein Sauji, realizou-se uma reflexão sobre os caminhos percorridos, seus aprendizados e horizontes para a nova fase. Na ocasião, a Sra. Olga Loforte, Directora Executiva da OPHENTA, falou em torno das estratégias feministas que se mostraram mais eficazes na experiência do programa Aliadas.

“A construção de alianças é o alicerce das nossas actividades. Não podemos falar do Programa ALIADAS sem expressar a emoção de termos caminhado juntas e juntos durante cinco anos e agora, com a perspectiva concreta de mais cinco anos de aliança”, ressaltou.

No seio do movimento feminista, destacou, aprendemos que um movimento com perspectiva é aquele que trabalha pelo reforço da igualdade de género, enfrentando os desafios persistentes de uma sociedade estruturalmente desigual, cuja relação entre homens e mulheres ainda continua a ser marcada por sistemas que dificultam a concretização dessa igualdade, apesar do reconhecimento da nossa existência.

Segundo Olga Loforte, o motivo para o regozijo e perspectiva risonha está na aliança ora consolidada ao longo da primeira etapa do Programa Women’s Voice and Leadership. “O que celebramos com o ALIADAS é o facto de termos feito jus ao seu nome: o programa tornou-nos verdadeiramente mais aliadas. Antes do seu início, o movimento feminista já vibrava a nível nacional mas, com o ALIADAS, houve um fortalecimento real e coordenado das organizações que lutam pelos direitos humanos das mulheres e pela igualdade de género”.

Entre os marcos deste percurso, destaca-se a estratégia de criação de núcleos regionais, uma escolha acertada do CESC, que permitiu a implementação coordenada do programa, através de organizações facilitadoras e dinamizadoras.

Aprendemos juntas. Os fóruns regionais de género, nascidos em Nampula e posteriormente replicados na zona centro, foram espaços de aprendizagem e partilha. Desta experiência, emergiram iniciativas como o Observatório das Mulheres e o Barómetro das Mulheres, que impulsionaram o activismo feminista com novas ferramentas e abordagens.

Ainda que o ALIADAS terminasse, essas plataformas manteriam viva a aliança, como é o caso da Plataforma Mulher com Vida.

Não se trata apenas da defesa dos direitos das mulheres em contextos de violência baseada no género. Trata-se, também, da possibilidade de explorar plenamente as capacidades das mulheres, contribuir para o desenvolvimento integral e exercer autonomia sobre os seus corpos e sobre todas as dimensões da sua existência jurídica, económica, cultural e sexual.

Quais foram as grandes transformações que o ALIADAS trouxe e como assegurar que as conquistas do primeiro programa sejam sustentadas e ampliadas neste novo ciclo?

Cecília Khuni, Associação de Mulheres Viúvas de Grigoline

Nós, mulheres, ficámos mais acessíveis umas às outras e, sobretudo, mais aliadas. Com a chegada da pandemia da COVID-19, ficámos limitadas, sentadas, sem grande capacidade de acção. Mas, graças ao esforço do ALIADAS, as tecnologias tornaram-se uma ponte entre nós.

A maioria de nós nunca tinha tido acesso a essas ferramentas. Usávamo-las apenas para nos comunicarmos, mas não sabíamos como tirar proveito para o que queríamos realizar. Ir ao Facebook, ao WhatsApp, à internet, tudo isso era novo, mas elas tiveram muita paciência, ensinaram-nos e capacitaram-nos.

Essas capacitações colocaram-nos num novo patamar. Estávamos a partilhar conhecimentos, a aprender em conjunto. Tivemos formações com profissionais. Dividíamo-nos em grupos. Eu, por exemplo, conhecia mulheres que só via uma vez por ano. E, mesmo assim, essas mulheres tocavam-me. Via-as e pensava: “Ah, ela é assim. Eu também posso.”

Quais são as suas prioridades e o que se pode esperar desta nova fase do programa ALIADAS?

Tassiana Tomé, ALIADAS

Prioridades do Programa:

1. A Identidade e o Compromisso Político do Programa ALIADAS

A Cecília trouxe um ponto que considero profundamente importante: o calor do ALIADAS. Este programa construiu a sua identidade através de princípios como empatia, cuidado, afecto e carinho. Considero essencial resgatar esta dimensão do amor no compromisso político com a igualdade de género, porque não é possível percorrer este caminho sem afecto. E isto é algo que queremos continuar a cultivar. Acreditamos que há elementos fundamentais trazidos nos primeiros anos do programa que merecem ser consolidados.

2. Violência Baseada no Género e Conflitos Armados

Estamos num contexto marcado pela violência baseada no género. O acesso a serviços de resposta integrada para proteger e prevenir a violência ainda é muito precário.

Não temos, como desejaríamos, centros de acolhimento espalhados por todo o país tampouco dispomos de um sistema de justiça verdadeiramente eficiente e que nos ofereça segurança no momento de denunciar casos de violência. Queremos saber que, ao denunciar uma situação de violência, estaremos protegidas e que os agressores serão punidos devidamente. Sabemos que há um aumento de casos de feminicídio. Por isso, esta continua a ser uma temática prioritária.

Outro tema fortemente ligado à violência baseada no género é o dos conflitos armados e o modo como afectam as mulheres. A Directora Fidélia já havia referido como o programa ALIADAS teve de se adaptar à conjuntura de conflito no norte do país. Esta realidade permanece e continua a exigir a nossa atenção.

Precisamos de continuar a investir na agenda “Mulheres, Paz e Segurança”. Existe um novo plano, e é fundamental garantir que as mulheres afectadas por conflitos sejam integradas e apoiadas.

3. Direitos Económicos das Mulheres

Outra temática prioritária, sobretudo no actual contexto de múltiplas crises que o país enfrenta, onde, infelizmente, os níveis de pobreza são cada vez mais acentuados, é a dos direitos económicos. Precisamos de conectar as lutas feministas às oportunidades reais de geração de rendimento e de sobrevivência. A Olga mencionou, por exemplo, iniciativas como a feira solidária e outras formas de economia com princípios feministas. Isso é importante, pois pode trazer-nos a dimensão económica para dentro da luta pelos direitos das mulheres.

4. Direito à Terra

Há, ainda, uma área que não pode ser ignorada, o direito à terra. O direito à terra está intrinsecamente ligado às compensações provenientes da exploração de recursos naturais, e sabemos que isto afecta profundamente as mulheres. As mulheres são a principal força de trabalho na terra, são as principais cuidadoras da terra. No entanto, o seu acesso à titularidade formal está, ainda, muito distante de ser uma realidade, por isso, esta é também uma área relevante para nós.

5. Participação Política e Reforma Legal

A questão da inteligência e da liderança política é, igualmente, um ponto crucial para nós, porque estamos num contexto de profundas transformações na democracia do nosso país, com reformas constitucionais e no Código Penal. Assim, queremos que as mulheres participem activamente neste processo para influenciar estas reformas. É imperativo que as políticas públicas e o novo quadro legal constitucional do país incorporem uma perspectiva de género e priorizem os direitos e necessidades das mulheres, cuja participação, nesse processo, deve ser substantiva e não apenas figurativa.

6. Inclusão, Diversidade e Espaço Digital

Nesta nova fase do programa ALIADAS, e como fruto das aprendizagens anteriores, não queremos deixar nenhuma mulher para trás. Há uma necessidade urgente de olharmos para a diversidade e pluralidade das mulheres, incluindo as mulheres com deficiência e as mulheres LBTQ+.

Queremos, também, assegurar o acesso ao universo digital. Portanto, o activismo digital será, certamente, um tema central para nós: as mulheres no espaço digital.

7. Abordagem Holística dos Direitos das Mulheres

Creio que estas são, em resumo, as grandes áreas temáticas prioritárias. Elas reflectem o legado já construído e o nosso compromisso em ampliar o horizonte de acção.

O nosso entendimento de direitos das mulheres deve ser alargado, indo além de temáticas como a violência baseada no género e a saúde sexual e reprodutiva, mas, efectivamente, para uma abordagem mais integrada e holística sobre o tema.

Neste novo ciclo do Aliadas, que temas devem estar no centro da agenda feminista?

Marta Roff, Girl Move Academy

Creio que, para enfrentar os desafios actuais, precisamos de respostas ousadas e estruturantes. Para isso, o que propomos como Girl Move é pensar em como ampliar as vozes jovens.

Precisamos de uma comunidade prática, multidisciplinar, onde estas vozes estejam habilitadas e elevadas para intervir em múltiplas temáticas. Não basta termos apenas especialistas em género ou em violência baseada no género. Precisamos de jovens que falem com propriedade sobre mudanças climáticas, energia, saúde, educação. Estas jovens devem estar no centro da transformação.

Mais do que isso: devem criar novas narrativas, quer para o contexto nacional, quer para o internacional. Se queremos atrair investimento e promover o desenvolvimento, precisamos de narrativas transformadoras. Para tal, devemos investir numa nova geração, com pensamento crítico, empatia e visão transformadora, o que chamamos de changemakers.

Acreditamos que, nas futuras fases do ALIADAS, seja fundamental integrar estas vozes jovens nos processos de transformação. Afinal, estamos a construir soluções que servirão as comunidades futuras, e essas comunidades são, hoje, compostas por jovens. Não podemos criar soluções para elas sem as ouvir.

É por isso que apostamos no diálogo intergeracional. Não se trata apenas dos jovens ou das gerações anteriores, mas de promover um encontro entre todas, onde as vozes jovens se façam ouvir com ideias, acções e impacto multiplicador para as gerações futuras.

Quais as prioridades do governo em termos de género que devem estar integradas no programa Aliadas?

Siena Daud, Directora Nacional do Género

Siena Daud, Directora Nacional do Género, destaca a importância da integração do diálogo intergeracional e a necessidade de inclusão do programa ALIADAS nos diferentes subsistemas de ensino técnico-profissional, ensino superior, bem como em iniciativas de geração de rendimento.

“Como Ministério, queremos mapear e integrar mais associações e cooperativas lideradas por mulheres, para além das 56 actualmente envolvidas. Pretendemos criar uma rede coesa de mulheres, envolvendo tanto grupos formais e informais, como os grupos de xitique, por exemplo. No Niassa, um destes grupos criou uma rede rotativa com os valores recebidos dos programas de protecção social. Esta é uma iniciativa de geração de rendas que consideramos inspiradora e que merece ser replicada”.

Incentivamos, acrescentou Siena, a criação de cooperativas sociais e de empresas lideradas por mulheres. “Na província de Gaza, de onde venho, existem grupos femininos muito activos, mas que ainda se encontram fora de redes como o ALIADAS, mas acreditamos que, ao integrarem essas redes, o impacto do seu trabalho poderá ser maximizado e consolidado”.

Outro aspecto crucial apontado pela Directora Nacional do Género é a necessidade de prestação de assistência técnica às cooperativas. Segundo ela, as universidades estão a criar incubadoras sociais que apoiam a formalização do sector informal, um modelo promissor em províncias como Gaza, Zambézia e Nampula.

Siena defende colaboração com estas instituições, assim como com o sector privado, com vista à promoção de estágios profissionalizantes para jovens, haja vista o facto de os dados indicarem que este grupo leva entre dois a três anos para conseguir o seu primeiro emprego formal e, muitas vezes, esse emprego não está relacionado com a área em que se formou.

Iniciativas como o projecto “Mulher para Mulheres”, que iniciámos em Gaza com o lema Partilhar para Inspirar, exemplificou, têm exactamente este objectivo: inspirar outras mulheres com histórias de sucesso.

Portanto, gostaríamos que o ALIADAS assumisse a dianteira e expandisse este tipo de iniciativas a nível nacional.

ACONTECEU ESTE MÊS! PRÁTICA FEMINISTA DO CUIDADO (AGOSTO)

É nos colectivos que cada uma de nós se nutre e fortalece. O laço que une cada mulher activista ao movimento de transformação do mundo nos sustenta e nos dá a segurança para continuar a fazer algo que parece lógico, mas que não é tão fácil quanto parece: transformar, ao mesmo tempo, o mundo e a nós mesmas, buscando assim, viver melhor e ser melhor. Construir, desde já, um futuro em que tod@s possamos ter futuro. Cuidar de si mesma, cuidarmos umas das outras, deixarmo-nos ser cuidadas, retribuir o cuidado recebido; compartilhar as nossas emoções, os nossos achados na luta feminista, as nossas dores e os caminhos para curá-las; valorizar o nosso saber, as nossas experiências e as nossas capacidades é algo fora da ordem, subversivo. Diz respeito à nossa luta por autonomia pessoal e de garantia da nossa auto-organização. Sustenta-se em princípios éticos e políticos que nos são caríssimos, como a horizontalidade, a solidariedade e a reciprocidade. Vemos o cuidado entre as activistas como um caminho para interpelar o individualismo, o sexismo, o racismo e outras formas de discriminação que interiorizamos e que continuam a oprimir-nos todos os dias. O cuidado entre activistas insere-se no conjunto de reflexões e práticas alternativas que vêm sendo desenvolvidas a partir do feminismo. É crucial desenvolver o esforço consciente de manter os vínculos afectivos, valorizar as emoções e os sentimentos como parte indispensável tanto à sustentação do nosso activismo, quanto ao fortalecimento do sujeito político colectivo, que é a maneira de podermos existir como sujeito individual na luta política [1].


[1] Sintetizado do livro Cuidado entre Activistas: Tecendo Redes Para a Resistência Feminista de Guacira Oliveira e Jelena Dordevic. Link: https://br.boell.org/sites/default/files/cuidado_entre_ativistas.pdf.

1.   Cuidando de nós, de várias formas: https://aliadasemmovimento.org/site/?p=7007

2.   Conhecer as histórias das nossas companheiras é também uma forma de cuidado. Confere aqui as histórias de vida de mulheres poderosas: https://aliadasemmovimento.org/site/?page_id=505


Abaixo, um apanhado das principais actividades desenvolvidas pelas organizações e colectivos de mulheres e outras notícias do mês de Agosto:


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Confere, aqui, a campanha de divulgação da lei de prevenção e combate às uniões prematuras promovida pela AMUDHF

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Lê, aqui, como foi a visita de cortesia que a AVTG efectuou à UniRovuma:

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Acompanha, aqui, a última edição da Revista MEL, sobre o Bootcamp Alianças Feministas:

ACONTECEU ESTE MÊS! MOVIMENTAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES SOBRE A EXPLORAÇÃO DE MULHERES EM NDLAVELA

Recentemente, o Centro de Integridade Pública (CIP) denunciou, através de uma investigação jornalística que durou cerca de 6 meses, casos de exploração sexual de reclusas no Estabelecimento Penitenciário Especial Para Mulheres da Província de Maputo, vulgarmente conhecido como Cadeia Feminina de Ndlavela. Guardas prisionais obrigavam reclusas a prostituírem-se, sendo retiradas das celas à noite e entregues aos clientes. Este caso, que chocou e revoltou as organizações da sociedade civil, principalmente as organizações de direitos das mulheres, veio juntar-se ao também revoltante caso das instruendas violadas sexualmente na Escola Prática da Polícia em Matalane. Rapidamente, as organizações e colectivos da sociedade civil se mobilizaram em repúdio a estes crimes e, através do Observatório das Mulheres, submeteram uma queixa-crime contra a direcção da cadeia na Procuradoria Geral da República e lançaram uma campanha contra a exploração sexual das raparigas para exigir a responsabilização dos agentes envolvidos nos dois escândalos citados. Nesta acção, o Observatório das Mulheres exigiu a criação de uma comissão de investigação independente e que incluísse esta instituição para acompanhar todas as diligências necessárias. Além disso, várias organizações filiadas ao Observatório, organizaram um acto numa das principais avenidas da cidade, para protestar contra o abuso sexual de mulheres, raparigas e crianças no país. Elas foram acompanhadas de cartazes, batuques, dísticos e canções em repúdio à exploração sexual em Ndlavela, ao abuso sexual, à violência doméstica e de todas as formas de violação dos Direitos Humanos da Mulher e Rapariga. Para mais informação sobre estes casos, confere:

A investigação jornalística do CIP: https://www.cipmoz.org/wp-content/uploads/2021/06/Explorac%CC%A7a%CC%83o-Sexual.pdf

Uma reportagem sobre a movimentação do Observatório das Mulheres: https://www.voaportugues.com/a/basta-%C3%A0-impunidade-diz-observat%C3%B3rio-de-mulheres-em-mo%C3%A7ambique/5972766.html

Uma reportagem sobre a queixa-crime apresentada pelo Observatório das Mulheres: https://www.dw.com/pt-002/abusos-sexuais-em-ndlavela-observat%C3%B3rio-da-mulher-apresenta-queixa-crime/a-57984960

Um artigo de opinião sobre os casos de Matalane e Ndlavela: https://cartamz.com/index.php/opiniao/carta-de-opiniao/item/8231-de-matalane-a-ndlavela-manifestacoes-diferentes-mesma-enfermidade-uma-analise-na-perspectiva-do-genero

Um programa de televisão com a participação da Secretária Executiva do Observatório de Mulheres: https://fb.watch/8ix4lRYPdK/


Abaixo, um apanhado das principais actividades desenvolvidas pelas organizações e colectivos de mulheres e outras notícias do mês de Julho:

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Confere, aqui, a homenagem a Felizarda do GMPIS:


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Acompanha, aqui, as actividades desenvolvidas pela AMUDHF:

Confere, aqui, quais os objectivos da visita de cortesia da AVTG a instituições que trabalham com género e acção social:

Lê, aqui, a nova edição da nossa Revista MEL, sobre a Teoria de Mudança:

5ª edição – Bootcamp: Alianças Feministas


O que aconteceu?

Entre os dias 4, 5 e 6 de Agosto de 2021, realizou-se um circuito do Bootcamp/ Atelier Feminista, intitulado Alianças Feministas, que consistiu em encontros virtuais com a duração de três horas cada e TPCs realizados pelos colectivos com a própria organização. Participaram em média 40 pessoas por sessão, contabilizando a presença de cerca de 30 colectivos (AMMCJ-ROSC, ASCHA, Associação de Mulheres Jovens Líderes, Young Women Leaders, AMPDC, GMPIS, NAFES, AMME, AMUDHF, FORMUCAMU, Associação Feminina de Chiuta, Associação Moçambicana Madalitso, GMJERAC, Associação de Viúvas Teresa Grigolini, ADMN, Ovarana Waxithiana Wampula, FAFI, FOFEN, Muchefa, MULEIDE, Coluas e CABE), dos quais quatro eram WIPs (NAFEZA, LeMuSiCa, Ophenta, Fórum Mulher).


Bootcamp 2021: Alianças Feministas

Inserido no fluxo de reflexão do MEL, o Bootcamp é uma actividade que acontece todos os anos e que reúne os colectivos das regiões sul, centro e norte do país. Para este ano, o seu tema foram as Alianças Feministas e os seus objectivos foram reflectir sobre a prática feminista na gestão organizacional, reflectir e conhecer sobre métodos participativos e partilhar histórias e experiências de como empoderar outras mulheres.

O grupo de reflexão foi constituído por cerca de 43 pessoas de 28 colectivos que se sentem felizes por estarem juntas para aprender e trocar experiências, além de sentirem que precisam de forças e ajuda para enfrentar o contexto difícil da COVID-19, dos conflitos armados, da VBG e das dificuldades económicas.

As sessões foram orientadas por questões centrais e demandaram como TPCs reflexões individuais e organizacionais. As questões orientadoras foram as seguintes:

  • Conectar e reflectir: desafios dos colectivos na prática feminista organizacional
    Quais são os desafios dos colectivos para ter uma prática feminista na gestão organizacional?

  • Reflectir e aprender sobre métodos participativos
    O que são métodos participativos, por que são importantes e quais os exemplos?
    O que é educação popular feminista? Como podemos praticar?

  • Reflectir sobre a experiência das mulheres para empoderar outras
    Por que é importante apoiar e empoderar outras mulheres?
    Como fazer para empoderar outra mulher?


O que é Bootcamp?

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Quais foram as reflexões mais importantes?

DIA 01

O primeiro dia do Bootcamp teve a participação de Graça Samo, activista feminista e Secretária Executiva da Marcha Mundial das Mulheres. Com ela, o grupo reflectiu e debateu sobre a prática feminista do cuidado e a sua gestão nos colectivos. Na reflexão sobre o que é ser feminista, o grupo inumerou características importantes, como não ser machista ou partidária, enfrentar o sistema patriarcal que diz que a mulher é culpada da violência, defender os nossos valores como mulheres e responder às necessidades das mulheres e aplicar a justiça e igualdade de género em todas as questões.

Como práticas feministas importantes, as participantes identificaram a união, o entendimento e o apoio mútuo entre mulheres e colectivos; a solidariedade (puxar umas pelas outras); a visibilidade e a inclusão para abrangência e impacto; a sustentabilidade; a melhoraria e persistência na comunicação; a prestação de contas; um maior investimento em reflexões internas; o esforço de todo o colectivo na aprendizagem; a interação e melhoria das nossas conexões e sinergias com ferramentas como o WhatsApp e o Atelier Feminista do Aliadas em Movimento e a ideia de que nós, Colectivos, temos estilos diferentes de lideranças e tudo depende de nós.


Reflexão: Quais as práticas feministas para a gestão da organização?

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Reflexão: Quais os aprendizados sobre a nossa prática feminista?

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DIA 02

O segundo dia do Bootcamp aprofundou o aprendizado sobre os métodos participativos e feministas. O tema situou-se no contexto do sistema patriarcal, que reproduz a desigualdade de género através de normas sociais e culturais, seja na vida pessoal (casa, bairro), como na vida profissional, limitando a capacidade de agir e a consciência de mulheres e homens. Imposição de papéis sociais, as pressões e opressões que afectam atitudes, percepções e sentimentos que se gravam na mente, no corpo e nos hábitos, na vida pessoal e na vida organizacional foram outros temas debatidos. De maneira geral, a reflexão girou em torno de como o feminismo traz ideias e ferramentas para enfrentar e criar alternativas a este sistema patriarcal.


Quais os princípios para um modelo de gestão democrática com métodos reflexivos e participativos feministas?

Os modelos clássicos de gestão patriarcal reproduzem as normas sociais e as desigualdades dentro de uma organização ao promover hierarquias, competição entre indivíduos, ao não criar um ambiente criativo e seguro e ao não dar um feedback positivo e sim lições de moral. Ao contrário, os modelos de gestão democrática problematizam e buscam inovação e criatividade, criam possibilidades para as mudanças, promovem autonomia e responsabilização com tomada de decisões compartilhadas, apoiam a equipe a reflectir, participar, incluem e negoceiam as diferenças de opiniões, têm uma comunicação clara e permanente escuta num ambiente seguro de trabalho, estimulam pensamentos próprios para encontrar caminhos alternativos para que sonhos sejam realizados e desafiam e questionam as estruturas e sistemas da sociedade que criam barreiras para a igualdade e justiça de género.

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Quais os caminhos para práticas feministas participativas?

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  1. Espaço seguro: é um espaço de confiança para que as mulheres possam falar e debater sobre diferentes visões de mundo: investir no próprio conhecimento e aprendizagem; escutar e gerir frustrações e sonhos; ter acordos claros sobre expectativas e acolher as diferentes opiniões e pensamentos;

  2. Comunicação e negociação: é a estratégia para criar a confiança e escuta sem julgamento: deixar o colectivo definir/ expressar e negociar; ter clareza dos papéis e tarefas a serem realizadas; observar a dominação de líderes e a dinâmica dos grupos;

  3. Provocar o debate: é o caminho da gestão do trabalho de grupo. Ouvir todos os lados, com respeito e honesta curiosidade permite a argumentação e elaboração das ideias: ver o erro como aprendizagem e não algo a ser punido, dar feedback construtivo; questionar sempre fazendo as perguntas “Porquê? Como? O que significa?”, pois o uso de perguntas encorajadoras estimula a curiosidade; questões problematizadoras ajudam a alcançar a visão colectiva; criar estratégias para incluir as pessoas que não conseguem participar no debate;

  4. Cuidar: quem cuida de quem cuida? Como estamos a reinventar-nos no contexto desafiador? Que auto-cuidado fazemos?


DIA 03

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No terceiro e último dia do Bootcamp, foi possível aprofundar o significado das práticas feministas para engajar e apoiar as mulheres. Debateu-se e reflectiu-se sobre vários temas, nomeadamente:

  • Como estamos a liderar processos que cuidam, incluem e empoderam outras mulheres? O que podemos melhorar?

  • Como estamos a gerir o tempo para tomar decisões e incluir as várias vozes? O que podemos melhorar?

  • Como estamos a gerir a comunicação para dar voz e ouvir todas? O que podemos melhorar?


Como avaliamos o processo?

  • Maior desafio do processo de reflexão em formato virtual é o engajamento dos colectivos, superando os limites do acesso com a oscilação da internet;

  • No formato virtual, o esforço de preparação é dobrado, pois é necessário criar diferentes estratégias, muita comunicação e reforço de mobilização;

  • A avaliação final é positiva, a metodologia foi acertada ao usar-se o PowerPoint como suporte para visualizar as sessões, ter grupos de debates, TPCs de preparação e durante os Bootcamps. Os TPCs foram estratégicos para criar o espaço de reflexão de quem participou das sessões com o colectivo. Foi importante simular o que é feito presencialmente: respiração, meditação, exercícios de QGung, momentos de socializar, cantar, poesias, etc;

Os conteúdos: 1) a reflexão sobre a prática feminista na primeira pessoa, no colectivo e no apoio para trazer junto às outras mulheres foi profunda e trouxe exemplos práticos; 2) as participantes já têm mais conhecimento de técnicas e do conceito sobre metodologias participativas feministas; 3) o ponto alto foi a interação com Graça Samo, sobre ser feminista e o cuidado de si e do colectivo como prática feminista de gestão das organizações e do movimento.

Cuidar umas das outras

Gosto de ver como as imperfeições
Do meu corpo me tornam perfeitas
Oh mulher! Mulher Africana! Oh mulher! Mulher Moçambicana!
Como somos tão macias porém
Ásperas e selvagens
Quando precisamos
Como somos capazes de sentir
Como não temos medo de romper
cuidar das dores e saúde
De umas das outras
Oh Mulher! Mulher Africana! Oh Mulher! Mulher Moçambicana!
Só o facto de ser mulher
Dizer que sou mulher
Me faz absolutamente plena, completa e capaz de cuidar umas das outras
Oh Mulher! Do Sul, Centro e Norte
Nos comuniquemos como companheiras
Oh Mulher! Mulher Moçambicana
Cuidemos umas das outras

(AVTG – Cecília)

AMUDHF CAPACITA RAPARIGAS EM MATÉRIA DE TIC’S

A foto abaixo ilustra a partilha de experiências sobre as TICs promovida pela AMUDHF, uma iniciativa das raparigas curadas da fístula obstétrica em 2020. No âmbito do programa WVL-ALIADAS, as jovens são desafiadas a aprender como produzir um programa radiofónico com mensagens de desencorajamento da gravidez precoce e o aborto clandestino. Esta actividade insere-se no contexto da prevenção de novos riscos da fístula obstétrica. Segundo os seus sentimento, não querem ver outras raparigas a sofrer como aconteceu com elas.

A actividade iniciou a 27 de Setembro e terminou dia 30. Por se tratar de uma aprendizagem complexa, que é conhecer e manejar o computador na óptica do utilizador, principalmente a digitação dos textos, deve haver seguimento. A iniciativa contará com conteúdos que incluem fazer textos ou scripts, técnicas de selecção de fontes e colecta de dados em função dos temas e mensagens chaves, produção de spots de 1 minuto e magazines de 20 minutos. Também contará com notícias relacionadas com a vida da rapariga na zona rural e urbana, tendo um maior foco na situação da rapariga rural e nas uniões prematuras, que são a principal causa da gravidez precoce que compromete a vida das meninas. A capacitação irá até Novembro.

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ASSOCIAÇÃO DE VIÚVAS TERESA GRIGOLINI EFECTUA VISITAS DE CORTESIA À DIRECTORA PROVINCIAL DE GÉNERO, CRIANÇA E ACÇÃO SOCIAL E AO GABINETE DA ESPOSA DO GOVERNADOR

No dia 21 de Julho, a Directora Executiva da AVTG, acompanhada do Oficial de Projecto, realizou uma visita de cortesia à Directora Provincial do Género, Criança e Acção Social. Esta visita teve como objectivos apresentar o plano de actividades 2021/2022. Além disso, foram abordados outros assuntos, entre eles a necessidade da associação expandir as suas actividades aos distritos. A Directora da DPGCAS propôs actividades conjuntas entre esta associação e a sua instituição, encontros de planificação conjunta e a apresentação de um plano de trabalho adequado à realidade da mulher no distrito. As equipas técnicas de ambas as organizações ficaram de avaliar e ajustar ideias para a sua implementação nos próximos cinco meses.

Dando prosseguimento às visitas de cortesia, a 22 de Julho a Directora Executiva da AVTG efectuou uma visita, acompanhada pelo Oficial de Projectos, ao Gabinete da Esposa do Governador. Estiveram presentes a Esposa do Governador, a Directora Provincial do Género, Criança e Acção Social, a esposa do Secretário de Estado, a assessora do Gabinete da Esposa do Governador, entre outras individualidades. Os assuntos debatidos foram a apresentação do projecto, suas actividades até 2023 e todos os desafios relacionados à sua implementação, contexto, COVID-19, práticas culturais e VBG, que impedem o empoderamento e o gozo dos direitos das mulheres. Foram acordados encontros de planificação entre o Gabinete da Esposa do Governador, a DPGCAS e a AVTG, assim como visitas às instalações de trabalho da associação.

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ASSOCIAÇÃO DE VIÚVAS TERESA GRIGOLINI EFECTUA VISITA DE CORTESIA À UNIROVUMA

No âmbito das visitas de cortesia levadas a cabo pela Directora Executiva da AVTG, realizou-se dia 13 de Agosto um encontro na UniRovuma, UCM – Delegação de Nampula, na qual esta foi recebida pelas Directora e Chefe de Departamento dos Serviços Sociais desta instituição académica. Durante o encontro, a AVTG apresentou um breve resumo das suas actividades e as perspectivas deste ano. Dos assuntos debatidos, as duas instituições foram unânimes na necessidade em se organizarem mais encontros para definir parcerias e assinar memorandos, concretamente na área cultural, onde a mulher tem sofrido consequências devido às práticas culturais que a inferiorizam, tais como os ritos de iniciação, que deveriam ser faseados de acordo com o crescimento, desenvolvimento e amadurecimento da rapariga. Pesquisas comunitárias, encontros com as Direções Sociais do Governo, Justiça, PRM, Sociedade Civil estariam envolvidos para opinar, trazer propostas que possam influenciar e transformar os ritos de iniciação em boas práticas, como eram em tempos passados.

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AMUDHF PROMOVE CAMPANHA DE DIVULGAÇÃO DA LEI DE PREVENÇÃO E COMBATE ÀS UNIÕES PREMATURAS

A Associação das Mulheres para a Promoção dos Direitos Humanos e Cidadania (AMUDHF) luta pelo fim da fístula obstétrica. Neste sentido, entre os dias 13 e 17 de Setembro, a associação realizou em Mocuba uma campanha de divulgação da lei de prevenção e combate às uniões prematuras, mobilizando raparigas e mulheres afectadas pela fístula obstétrica e encaminhando-às à Unidade de Saúde. Por causa da COVID-19, houve uma redução do número de mulheres submetidas ao tratamento. A associação precisava de encaminhar 50 mulheres com fístula obstétrica para o tratamento e conseguiu identificar 60. Dessas, foram autorizadas a encaminhar apenas 30, das quais 15 sem sucessos devido à gravidade das fístulas.

Em Julho, a associação organizou e liderou uma palestra dirigida a líderes comunitários, sobre direitos da rapariga, realizada na sede da localidade de Inturo, distrito de Molevala.

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4ª edição – Teoria de Mudança (TOC)


1. O QUE ACONTECEU?

Aprender com o passado, reconhecer os sucessos, barreiras e dificuldades é o caminho para construir um futuro feminista mais sustentável para os colectivos que fazem parte do WVL ALIADAS.

No âmbito do MEL (Monitoria, Aprendizagem e Avaliação) realizaram-se, entre Fevereiro e Maio de 2021, encontros e reflexões com os colectivos das regiões sul, centro e norte do país. Estes eventos incluíram três encontros regionais onde falamos sobre a Teoria de Mudança (TOC). Realizaram-se também duas importantes reflexões, uma sobre o contexto dos Direitos Humanos das Mulheres e outra sobre a acção das mulheres frente ao COVID-19. Nesta última, analisámos como os colectivos enfrentam a pandemia através da Plataforma Mulheres ComVida. Por fim, em Maio realizámos o TOC Nacional, onde todas as reflexões foram conectadas numa teia de sonhos para o futuro.

O TOC Nacional 2021

Acontecendo uma vez por ano e reunindo as regiões sul, centro e norte, o TOC Nacional deste ano foi realizado entre os dias 13 e 15 de Abril. A facilitação ficou a cargo do ALIADAS e a co-facilitação das WIPs (Ophenta, NAFEZA, Fórum Mulher, Lemusica). Participaram do encontro 26 organizações e colectivos, nomeadamente o Fórum Mulher, AMMCJ-ROSC, ASCHA, Associação Moçambicana de Mulheres Jovens Líderes, Young Women Leaders, LEMUSICA, AMPDC, GMPIS, NAFES, NAFEZA, AMME, AMUDHF, FORMUCAMU, Associação Feminina de Chiuta, Associação Moçambicana Madalitso, Grupo de Mulheres Jornalistas para o Empoderamento da Rapariga e Comunidade de Tete, OPHENTA, Associação das Viúvas Teresa Grigolini, Associação das Mulheres com Deficiência de Nampula, Ovarana Waxithiana Wampula, FAFI, FOFEN, Muchefa, MULEIDE, Coluas e CABE.

Antes de avançarmos na partilha das principais reflexões, aprendizados e próximos passos saídos deste encontro, vamos partilhar sobre o que é o TOC e como este é uma ferramenta importante no exercício de reflexão sobre o trabalho que desenvolvemos.

O que é o TOC?

O TOC (Teoria de Mudança) está inserido no âmbito do MEL – Monitoria, Aprendizagem e Avaliação – e é um exercício de reflexão anual para analisar os resultados, os contextos e os riscos para o alcance do sucesso programático. É um espaço de reflexão para construir um entendimento colectivo em direcção ao futuro, tendo em vista potencializar os resultados do programa. Significa saber o que estamos a mudar, porquê e perceber os obstáculos, de modo a ter a visão do todo, definir o que será feito nacionalmente e como tal fortalecerá o movimento.

Porquê o TOC?

O TOC permite o fortalecimento da articulação e compartilhamento de aprendizado entre as parceiras de implementação do ALIADAS. Fortalece as práticas feministas dos colectivos e movimento para promover a igualdade de género e direitos humanos das mulheres em Moçambique.

Quais os objectivos do TOC?

O TOC tem como principal objectivo analisar o Contexto, os Riscos e os Resultados. Desta forma, o aprendizado feminista será alavancado com este espaço de compartilhamento mais amplo. Adicionalmente, o TOC permite também acompanhar o progresso do programa, sistematizar o aprendizado a ser apresentado no relatório anual do Programa ALIADAS e aprender com as suas próprias intervenções para, assim, melhorar a prática, a qualidade e o impacto.

Qual o significado do que estamos a fazer? Como é que o que está a ser feito contribui para o alcance dos resultados planejados?


QUE DIFERENÇA ESTAMOS A FAZER?

  • A síntese dos encontros de reflexão que antecederam este encontro nacional constitui a base da reflexão sobre se as acções que estão a ser realizadas no Programa estão a ter resultados. As reflexões giraram à volta das seguintes questões:
  • Estamos a alcançar os resultados de ter colectivos com melhor gestão e sustentabilidade? – As organizações têm melhor desempenho na advocacia por direitos e igualdade de género?
  • As plataformas e redes estão a avançar no quadro legal para elevar os direitos de mulheres e raparigas?
  • Houve avanços na participação, inclusão e empoderamento de novas lideranças e colectivos nas nossas acções e advocacia?
  • O conjunto destas acções e os respectivos resultados está a contribuir para um maior resultado do ALIADAS, que é aumentar os direitos humanos das mulheres e raparigas em Moçambique?


O que já fizemos para chegar lá?

Bootcamp, 18-27 de Novembro de 2020
Este Bootcamp teve como objectivos fazer uma reflexão e aprendizado sobre uma gestão com abordagem feminista, criar a cultura de monitoria do contexto (voz e posicionamento para analisar o contexto) e partilhar informação, comunicação e contagem de histórias na plataforma ALIADAS em Movimento.

Resultado: Melhorou a comunicação, aumentou a literacia digital e criou interacção entre os colectivos. O sentimento do grupo é de pertencimento, fala, conexão. Têm mais informação sobre o ALIADAS, sentem-se orgulhosas de superarem os desafios tecnológicos e de acesso ao formato de encontros virtuais e conseguiram romper com as barreiras dos silêncios.

Reflexões: Para que a gestão seja feminista, é necessário haver solidariedade, boa comunicação, capacidade de escutar e de dizer assertivamente o que é preciso para trabalhar bem. Há também a necessidade de aumentar a aprendizagem colectiva e de fazer um guião ou uma pauta com os princípios, valores e orientações sobre o que é uma prática feminista num colectivo.

Questão de reflexão: Que práticas precisamos mudar? Como ter uma gestão para transformar as relações de género?


Mini-TOCs, 25-26 de Fevereiro (Centro), 1-2 de Março (Sul), 3-4 de Março (Norte)

Os objectivos destes workshops regionais foram a partilha, por parte dos colectivos/organizações parceiras do ALIADAS, de visões e sonhos de práticas feministas fortalecidas e de redes e movimentos mais fortes a nível regional e a construção de um primeiro esboço de teoria de mudança a partir das realidades e contexto das parceiras.

As 3 Regiões: Apoiar as jovens líderes feministas e aproximar as jovens e as antigas gerações; avançar a capacitação, reflexão e aprendizagem sobre as práticas feministas na gestão e no funcionamento dos colectivos; criar espaços seguros internos; intercâmbio e trocas de experiência entre colectivos; identificar as boas práticas feministas, etc.

Para fortalecer o Movimento: ter as práticas feministas que levam às acções com outros colectivos e que fazem uma “movimentação”.

Visão de um Movimento Feminista fortalecido nas 3 regiões: se os colectivos e lideranças feministas estiverem fortalecidos, irão fortalecer o movimento.

  • É importante haver sinergias entre os colectivos e uma agenda comum, juntar esforços sobre assuntos comuns, como no Centro que já identificou ‘Género e Emergência” (Covid, mudanças climáticas e conflitos).
  • É preciso identificar as agendas comuns.

Questão de reflexão: O que significa agir nos cantos mais recônditos, tanto ao nível dos colectivos quer do movimento? Como gerir os recursos humanos e materiais? O que é mais estratégico, dispersar ou concentrar e consolidar? Criar mais colectivos, mas como os conectar? Como equilibrar muita acção e muita reflexão e estratégia?


Reflexão sobre Direitos Humanos das Mulheres, 11 de Fevereiro e 9 de Março

O objectivo deste encontro foi reflectir sobre as mudanças necessárias no ambiente de género em Moçambique para o avanço dos Direitos Humanos das Mulheres.

Contexto: Conflitos Armados – COVID-19 – Mudanças Climáticas Empoderamento económico – redução de recursos para as mulheres;

Voz: Quem presta conta às mulheres?

Literacia Digital: a pandemia da COVID-19 expôs o acesso desigual das mulheres às TICs.

Igualdade de género: Assiste-se a um reforço do conservadorismo através da violência que ocorre contra as mulheres e raparigas; fechamento de espaço cívico; aumento da VBG; mulheres passam por violência física e psicológica em seitas.

O que podemos fazer de diferente: Negociar, influenciar e advogar; criar uma cultura em que os órgãos e agentes públicos prestem contas às mulheres; criar um espaço de diálogo permanente.

A mulher tem que estar no centro da discussão da paz e segurança.

Agir sobre os problemas estruturais: terra, poder económico, tecnologia, trabalho do cuidado, justiça, VBG.

Ter um observatório de Direitos Humanos das Mulheres.

Apoiar o agir do Movimento das Mulheres: Aumentar a confiança dentro do movimento feminista; ter estratégias colectivas; sinergias geracionais;

Questão de reflexão: O que podemos fazer de diferente? Como é que as diferentes iniciativas concorrem para a grande agenda sobre os Direitos das Mulheres e a Sociedade Civil?


Reflexão Mulheres ComVida, 23 de Março

O objectivo desta reflexão foi o de analisar o significado e a importância do que foi feito – tanto com os recursos para os projectos contra a COVID-19, como a rede de influência criada com as estratégias virtuais e de advocacia.

Resultados: A acção desta campanha contribuiu, em todas as regiões, para um aumento da consciência para a prevenção e articulou estratégias comunitárias. Vários exemplos demonstraram o envolvimento do governo distrital e provincial para avançar de forma mais sustentável na prevenção e mitigação da COVID-19.

Temas principais: Protecção social, SSR e VBG, incluindo HIV/SIDA, terra em áreas de mineração e trabalho com as populações deslocadas dos conflitos em Cabo Delgado.

O que fez a diferença: Aprender a agir colectivamente numa emergência sanitária.

Questão de reflexão: Num contexto ainda de pandemia, como seguir as acções que foram iniciadas? Com que recursos? Como potenciar a agenda COVID-19/Conflito Armado, Poder económico, Acesso a tecnologia, Terra e VBG?


Quais os avanços do que já fizemos?


Quais as barreiras e dificuldades que impedem o programa de ter bons resultados?


De que forma o contexto nos impede de avançarmos nas nossas actividades e quais as oportunidades para uma gestão feminista e para o Movimento?


Como melhorar a gestão feminista e a sustentabilidade dos colectivos?

  • Incluir diversas mulheres: mulheres com deficiência, raparigas e jovens, idosas, sobreviventes de violência etc., o que contribuirá para a sustentabilidade;
  • Reflectir continuamente de forma a que trabalhemos todas numa perspectiva de igualdade e desconstruir as relações de poder e transformar as normas e práticas culturais negativas. Reflectir como organizações e não como umas a falar em nome das outras;
  • Criar espaços de aprendizagem nos colectivos e no movimento de forma presencial e virtual, através de uma biblioteca feminista, para as mulheres terem mais conhecimento sobre as práticas feministas.
  • Trabalhar a cultura de género nas nossas organizações.


De que forma as acções de cada região contribuirão para fortalecer o movimento?

  • Ter um plano inclusivo ligado a uma agenda comum como movimento, incluíndo focos decentralizados em cada região;
  • Para que o movimento seja inclusivo: mapear e integrar as organizações formais e informais em cada região para se juntarem ao movimento;
  • Em cada região, coordenar as acções, criar sinergias entre organizações de base e organizar encontros regulares e treinamentos, fortalecendo o movimento.


De que forma poderá a advocacia ser mais estratégica em relação ao avanço dos DH em todo o país?

  • Envolver e estabelecer alianças com as estruturas administrativas e políticas ao nível distrital, provincial e nacional nas nossas acções de advocacia;
  • Melhorar a comunicação ao nível das comunidades, usar a língua materna, incluir as forças vivas da comunidade, líderes comunitários, governo, partidos políticos;
  • Reforçar o espaço de diálogos seguros a diversos níveis, entre a sociedade e o governo, dar voz às mulheres, para comunicar com os tomadores de decisão (cartas, posicionamentos), conversas informais e empoderar-se no activismo digital.


Quais as prioridades para 2021/2022?


QUE DIFERENÇA ESTAMOS A FAZER?

Através do Foto-Voz, um método de recolha de informações com o poder da imagem para transmitir sentimentos e resultados de uma acção, demos voz e significado às experiências individuais ou dos colectivos ao capturar as suas realidades quotidianas. Esta técnica, que deixa florescer os sentimentos por trás dos resultados das acções visíveis, permitiu-nos mostrar o que estamos a fazer e o que aprendemos com as diversas actividades implementadas nas três regiões.


Que diferença estamos a criar para o Movimento?

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Que diferença estamos a criar para os nossos colectivos organizacionais?

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Que diferença estamos a criar para nós como pessoas e activistas?

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Quais os próximos passos?

As WIPs deverão fazer o Plano Regional, voltar às três prioridades e escolher duas ou três acções, com as quais farão um quadro que deverá separar o que são compromisos para um colectivo pôr em prática, o que são acções para vários colectivos/região e o que é de coordenação nacional. Além disso, deverão localizar os recursos já nos actuais projectos e o que precisam fazer para buscar novos recursos.

O ALIADAS deverá fornecer assistência técnica para finalizar este Plano até finais de Maio.

Outros passos serão formalizar a agenda do ALIADAS e divulgar para todas e divulgar o relatório e Foto-voz.

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