GMPIS REALIZA UMA SÉRIE DE ACÇÕES NO ÂMBITO DO 8 DE MARÇO, DIA INTERNACIONAL DA MULHER

No âmbito das comemorações do 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, o GMPIS organizou uma série de acções a decorrerem de 2 a 8 de Março, em diferentes regiões onde o Grupo está presente. Esta foi a sua agenda:

CANHANDULA: Antónia, Isabel e Calima
Tema: Mudanças climáticas, Covid – 19 e visita a campa de mamã Joana – dia 02 de Março de 2021;

NHANGAU: Luísa e Benedita
Tema: Como lidar com mulher e rapariga com deficiência no tempo da epidemia de Covid-19 e Ciclones – dia 04 de Março de 2021;

DONDO: Bezura e Dulce
Tema: Terras, Ciclone Eloise e Covid-19 – dia 03 de Março de 2021;

MUAVE: Fátima e Zefa Sidumo
Tema: Empoderamento económico no tempo de Covid-19 – dia 05 de Março de 2021;

MARROCANHE: Linda e Josefina
Tema: Saúde sexual reprodutiva e gravidez precoce no tempo de Covid-19 – dia 06 de Março de 2021;

MUNHAVA: Angelina e Mariana
Tema: Divulgação das mensagens sobre Covid-19 – dia 07 de Março de 2021;

MANGA:  Maria Sebastião e Cesaltina
Tema: Prevenção de HIV/SIDA no tempo de epidemia – dia 02 de Março de 2021;

ANZATHU: Inês e Fátima da Munhava
Tema: Comunicação interpessoal no tempo de Covid-19 – dia 03 de Março de 2021;

ADS: Cecília e Rita
Tema: Direitos humanos das mulheres no tempo de Covid-19 – dia 04 de Março de 2021;

KULIMA: Antônia e Luísa
Tema: Justiça em tempo de Covid-19 – dia 05 de Março de 2021

Dia 08 – encerramento, com uma actividade em que cada grupo vai realizar um debate sobre o porquê da exististência do 8 de Março e o que significa e violência baseada no género. Este tema será para todas, inclusive nos distritos.

A primeira acção realizou-se em Dondo, numa oficina onde as mulheres falaram sobre o significado e a importância do Dia Internacional da Mulher, das primeiras activistas que se sacrificaram com a suas vidas e todas as que dão continuidade à defesa dos direitos das mulheres e raparigas. Debateram também sobre Feminismo e a Posse de Terra para Mulheres. Outra acção foi a limpeza da campa e a homenagem da sua falecida companheira Mamã Joana. Ao exemplo dela, seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Confira as fotos das diversas actividades realizadas:

Énia Lipanga

Énia Lipanga

Énia Lipanga

Nasci em Maputo, no bairro Luís Cabral, sou a filha mais nova e tenho 5 irmãos e 2 irmãs.

Tive uma infância agitada e cheia de amigos. Gostava de jogar à bola, saltar à corda e de contar histórias. A Énia teve de se tornar adulta muito cedo. Engravidei antes dos 18 anos e passei a ter uma grande responsabilidade como pessoa. A maternidade tornou-me uma mulher focada e que luta pelos seus sonhos, pois já não era apenas a Énia ou uma menina, era eu e o meu filho num contexto em que a gravidez me criou vários problemas de aceitação social. Tive apoio da minha família, sobretudo da minha mãe. O meu primeiro emprego foi como promotora de vendas e em 2013 tive o meu primeiro contacto com a área da comunicação, tendo trabalhado como jornalista na rádio Super FM e no portal Folha de Maputo, onde permaneci durante cerca de 5 anos. Actualmente, trabalho na área de vídeos comunitários na associação H2N, uma organização que através da comunicação procura melhorar as vidas das comunidades, dando ênfase nas áreas de nutrição e igualdade de género.

Comecei a escrever poemas quando frequentava o ensino primário (sexta e sétima classes), mas a minha escrita tornou-se de intervenção social quando passei ao ensino secundário e comecei a notar algumas diferenças de tratamento que me eram atribuídas por ser menina. Os meus textos sobre igualdade de oportunidades, violência sexual, entre outros, começaram naquela época e até hoje me é difícil parar de escrever estes gritos, pois ainda vivemos numa sociedade que olha a mulher como um mero instrumento de prazer e reprodução.

Uma das minhas maiores conquistas como poeta e ativista foi a criação do sarau Palavras são Palavras, evento mensal com 8 anos de existência, um palco onde todos e todas têm direito a voz e, através dele, várias poetisas foram impulsionadas a escrever mais sobre as suas lutas, pois já tinham (têm) onde apresentar e pessoas para as motivarem. Lancei no início de 2020 o meu primeiro livro de poemas, Sonolência e Alguns Rabiscos, um livro impresso a tinta e braile, para permitir a inclusão das pessoas com deficiência visual.

Uma grande Marco para mim e para Moçambique foi a aprovação da Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras, pois antes podíamos lutar contra este mal e ficava em muitos casos sem efeito, mas hoje já temos um instrumento e várias plataformas de denúncia. Já assisti a vários casos de uniões forçadas e prematuras e não pude fazer muito, já que é algo culturalmente aceite, mas agora com a lei já consigo ajudar algumas manas que me procuram a contar estes casos. Como activista, me tornei também um veículo de denúncias pois várias mulheres têm se aproximado de mim e me confiado as suas histórias e juntas buscamos uma ajuda. Saber que com os meus textos consigo quebrar o silêncio de muitas mulheres vítimas de violência faz-me querer continuar. Em 2019, fui selecionada para fazer parte do primeiro fórum do grupo de ativistas sociais Uqhagamishelwano, que luta contra práticas sociais nocivas, grupo este de que hoje faço parte como representante de África. É um grupo que me permitiu ter um olhar amplo sobre o activismo e sobre as lutas na igualdade de género que são mundiais.

Penso que para que as mulheres tenham os seus direitos respeitados é necessário que se mude a mentalidade de muitos que a olham como um ser inferior e destinado ao lar (no nosso contexto), é necessário que se abra um espaço para que a mulher tenha direito a sonhar, lutar e alcançar os seus sonhos, para que tenha a liberdade de escolher o que ser e o que fazer em sociedade.

GMPIS PARTICIPA NO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2021

Entre os dias 23 e 31 de Janeiro de 2021 realizou-se, de forma totalmente virtual, o 20º Fórum Social Mundial. Este é um encontro anual internacional articulado por movimentos sociais, ONGs e pela sociedade civil para discutir e lutar contra o neoliberalismo, o imperialismo e, sobretudo, contra desigualdades sociais provocadas pela globalização. É caracterizado por ser não governamental e apartidário, apesar de alguns partidos e correntes partidárias participarem activamente dos debates e discussões.

A activista social e conselheira do GMPIS Carlota Inhamussoa representou Moçambique participando, no dia 28, do workshop intitulado Feminismos e dissidências sexuais no FSM: 20 anos caminhando entre avanços, nós e resistências. Uma chamada para pensar em um Fórum mais justo e inclusivo, promovido pelas organizações DAWN (Development Alternatives With Women for a New Era), AWID (Association for Women’s Rights in Development), AFM (Associação Feminista Mercosur), REPEM (Red de Educación Popular entre Mujeres), REAS (Red de Econonías Alternativa y Solidaria), SOS Corpo, entre outras.

Na sua apresentação, Carlota começou por descrever o GMPIS como um espaço aberto de debate de temas da vida quotidiana das mulheres, que se constitui como uma rede que envolve várias organizações de mulheres de base comunitária e activistas individuais. A sua missão passa pela acção para a transformação das relações de género e por trazer ao público as vozes das mulheres, assim como realizar acções de advocacia para alcance dos seus direitos.

A força do GMPIS, explicou Carlota, reside no fortalecimento da solidariedade entre mulheres e isso é feito através de debates em oficinas, onde se discutem os temas que constituem os problemas que limitam os direitos das mulheres, e na realização de acampamentos solidários, onde as mulheres trocam experiências de luta, reforçam as conexões das agendas de lutas e advocacia e traçam alternativas de superação e autonomia financeira (empoderamento económico).

Um dos temas mais actuais e preocupantes, não só para o GMPIS, mas para vários outros colectivos de mulheres, é o do militarismo. O GMPIS, como organização feminista, intervém através do tema MULHERES, PAZ E SEGURANCA. Contextualizando o histórico de conflitos políticos armados no país desde os primeiros anos de independência até ao mais recente conflito na província de Cabo Delgado, Carlota descreveu quais as acções que o Grupo desenvolve de forma a mitigar algumas das consequências destes conflitos nas mulheres, um dos grupos mais afectados.

Como mulheres, o Grupo tem fomentado a solidariedade para com as mulheres e raparigas que estão a perder os seus direitos de viver na terra onde nasceram, onde cultivam a terra e ganham a sua sobrevivência, sendo violentadas por uma guerra sem explicação. O que indigna o GMPIS é que, onde acontece esta guerra, onde as mulheres e as suas famílias são obrigadas a fugir, estão as empresas capitalistas, que exploraram os recursos naturais, empresas essas a quem a segurança nunca falta. As mineradoras continuam a funcionar, mas para as mulheres e para as suas famílias parece haver uma ausência de segurança.

Como forma de se solidarizar com as mulheres vítimas deste conflito, o GMPIS tem realizado acções de fortalecimento de competências sobre os direitos das mulheres em tempos de guerra, de ajuda na recuperação da autonomia financeira e de criação de sinergias para apoio psicossocial. Estão, também, a construir agendas para advogar sobre os direitos das mulheres em situações de conflitos armados, baseadas na resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do Plano Nacional Mulheres, Paz e Segurança de Moçambique (2018-2022).

Para além disso, o GMPIS realiza oficinas de debates para alcance de conhecimento sobre os direitos e oportunidades das mulheres e acampamentos solidários, como parte do movimento da Marcha Mundial das Mulheres. Estes são espaços que as mulheres organizam para fortalecer os laços de solidariedade e de alianças para resistências, advocacia e construção de alternativas. São uma auto-organização das mulheres e possuem princípios que os regem, nomeadamente serem realizados num espaço da comunidade, não usar hotéis (as mulheres dormem juntas em tendas ou alojamento solidário), não usam catering (cozinham de forma tradicional) e as mulheres comparticipam a sua participação, por exemplo em viagens.

Ezra Chambal Nhampoca

Eu nasci há 42 anos na localidade de Lionde, distrito de Chókwe, Gaza e cresci numa aldeia da mesma localidade. Actualmente vivo em Maputo. Sou docente e pesquisadora na Universidade Eduardo Mondlane, Departamento de Línguas, Secção de Línguas Bantu, onde sou coordenadora do grupo de Estudos em Línguas, Linguística Bantu e Áreas Afins (GELLBAA). Sou mãe, cuidadora e educadora de três meninas. Sou criadora e presidente da Associação Sororidade Moçambique, uma associação recém-criada, que defende a formação, transformação das mulheres e a igualdades de direitos, oportunidades e dignidade e respeito pelas pessoas, sobretudo das mulheres.

Eu nasci na localidade de Lionde, distrito de Chókwe, província de Gaza, Moçambique e cresci numa aldeia da mesma localidade, de onde saí aos 11 anos para ir continuar com os estudos na cidade de Chókwe. Sou 1ª filha sobrevivente depois de os meus pais terem tido três nados mortos, o que fez com que a avó paterna me desse o nome de Mahlomulu, que significa, numa tradução conceptual: o que vem só para nos fazer sofrer, pois também vai morrer! Só que eu vinguei e sobrevivi. Para contrariar o significado do nome dado pela minha avó, o meu pai, Alberto Chambal, inspirando-se no livro bíblico de Ezra (em Changana e Esdras, em Português), deu-me o nome de Ezra. Este foi um profeta protegido por Deus e foi a forma de meu pai dizer que eu também seria protegida por Deus e viveria.

Sempre gostei de ir à escola, de ler e estudar. Contam-me que desde os 4 anos,eu fugia de casa para a escola, seguindo a tia Hortência, irmã mais nova do meu pai, por isso, quando ingressei na escola, na pré, apesar de a minha língua materna ser o Changana, já sabia ler as primeiras letras em Português e já sabia também ler em Changana, porque o meu pai ensinava-me a ler a bíblia em Changana, em casa. Em 1989, concluí a 5ª classe, na localidade de Lionde e como não havia 6ª classe, tive que continuar os estudos na cidade de Chókwe, onde fui morar com a minha tia, irmã mais velha de seu pai. Portanto, saí da casa e do aconchego dos pais aos 11 anos e nunca mais regressei lá, a não ser para visitá-los.

Em 1997, aos 19 anos, experimentei um momento muito difícil, com o falecimento da minha mãe, Amélia Cuinica. Senti-me muito desamparada e eu era a irmã mais velha. No mesmo ano, concluí o ensino secundário na escola secundária do Chókwe e mais uma vez, no Chókwe não havia como continuar, pois não havia nível médio. Rumei para a capital de Gaza, Xai-Xai, para a escola pré-universitária de Xai-Xai, vivi no Famoso Centro Internato de Matendene, onde fiz o nível médio. Matendene foi uma grande escola, escasseava quase tudo, em termos materiais, mas muitas e muitos de nós fomos lá lapidadas e lapidados para sermos o que somos hoje.

Quando concluí o nível médio, ainda não havia universidades em Gaza e parecia que a minha sina era mudar de lugar para lugar, atrás da escolarização. Em 2000, a cidade de Chókwe foi assolada pelas enchentes e refugíamo-nos na Macia. Dormíamos no quintal da Direcção distrital da educação, na altura. Algumas semanas depois, a partir da Macia consegui uma boleia para Maputo, onde, literalmente sozinha, e com poucos recursos, preparei-me para o exame de admissão à Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

Ainda no mesmo ano, consegui o primeiro emprego formal, uma vaga para dar aulas no ensino primário em Incomanine, Sábie, Moamba. Para chegar a Incomanine, saindo de Sábie, muitas vezes tínhamos que caminhar cerca de 7 km a pé, pois raramente aparecia por lá algum tipo de meio de transporte.

Em Incomanine, fiquei apenas um semestre, pois fui admitida na UEM para fazer o curso de Licenciatura em Linguística e Literatura. Esse foi um momento marcante, pois era a menina da aldeia a adentrar a Universidade. Eu estava muito feliz, apesar de saber que enfrentaria dificuldades financeiras para arcar com as despesas da universidade. Eu estava orgulhosa daquilo, meu pai também e ele dava de tudo para que eu seguisse com os estudos. Já naquela altura, eu sentia que eu estava em uma situação diferente da dos meus colegas da cidade. Eu não tinha muitos conhecimentos modernos, livros, roupas, etc. Mas tinha um foco: Fazer a universidade. Foi aí que conheci uma grande amiga, a Ernestina Salita Chirindja. Ela ajudou-me a abrir o meu primeiro e-mail, passei a ler os livros dela, líamos, debatíamos, estudávamos juntas e muitas vezes, para além dos livros, ela dividia o dinheiro dela de chapa comigo, quando não desse, íamos juntas a pé à universidade, a partir da Pandora, vindas dos bairros Bagamoio e 25 de Junho. Até hoje é uma grande irmã e madrinha das minhas filhas.

Outra boa alma que surgiu no meu caminho naquele momento, foi o Professor Bento Sitoe. Ele, percebendo a escassez de recursos da minha parte, passou a financiar as minhas cópias. Eu ia tirar cópias, registavam e, mensalmente, ele passava pela reprografia para pagar.

Portanto, fazer o curso de Linguística e Literatura na UEM não foi fácil, pelas difíceis condições económicas, contudo, aos poucos, fui superando. Fiz parte de um dos melhores grupos de estudo daquela turma de 2001, um grupo bem-sucedido; estudávamos muito. O nosso grupo era o “Irmãos de alma̎. Fizemos o curso com sucesso e em tempo útil. Para custear parte dos estudos, comecei a dar aulas de Português e História na Escola Primária Completa de Bagamoio. Com esse emprego, embora fosse difícil conciliar trabalho e estudos, a situação financeira melhorou e eu estava orgulhosa em poder pagar as minhas contas, kkkk.

Em Janeiro de 2005, em plena escrita dos dois trabalhos de fim de curso, um de Linguística e outro de Literatura, tive a minha primeira filha, Ndawina (que significa ganhei). Esse foi mais um momento marcante. No mesmo ano, terminei a licenciatura. Este também foi um momento bastante marcante, sobretudo a graduação, com aquela toga. Nunca ninguém da minha família directa tinha usado, formado-se em uma universidade. Eu era a primeira, por isso tive que fazer uma segunda festa de graduação lá na minha aldeia de origem.

Em 2006 ingressei na UEM como assistente estagiária. No mesmo ano, casei–me com Joaquim Nhampoca, meu companheiro da e na vida.

Em 2007, nasce a Maya Luna, minha segunda filha. Lembro-me que a Maya quase nascia na universidade, num seminário em Julho de 2007. O que valeu à bebé o nome de Seminarinha, nos primeiros dias de vida.

Em 2008, ingressei no Mestrado em Linguística, o qual terminei em tempo útil com uma defesa pública em 2010. Antes, Em 2009 recebi uma proposta do então chefe de secção de Línguas Bantu, David Langa, para integrar aquela secção. E no mesmo ano, beneficiei de uma bolsa para um estágio em Tervuren, Bélgica.

Em 2011, nasce a minha caçula, Dominique Joaquina.

Em 2014, mais uma vez, por motivos de formação, tive que mudar de lugar. Mudei-me para o Brasil e morei lá por quatro anos a realizar o Doutoramento. Levei as meninas para o Brasil, porque eu queria estar com elas, queria ver de perto, queria cuidar pessoalmente. Sou assim, minhas filhas, sobretudo agora que são menores, eu quero estar com elas. Eu passei por muita coisa, muita dor na vida, acho que isso tornou-me, não uma mãe híper-protectora, pois sempre faço questão de as ensinar a partir da minha experiência, mas sou uma mãe que quer estar com. Acho que é o desejo de que elas não passem pelo que eu passei.

Minha estadia no Brasil, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, foi maravilhosa, marcada por uma forte presença, desde a organização de eventos e festas de Moçambique, mas também como palestrante e professora colaboradora de conteúdos africanos, na Universidade, no Município, no colégio e creche onde as minhas filhas estudavam. No Programa da minha formação, fui bem acolhida pelos professores e colegas. Fiz parcerias e amizades que serão para a vida toda. Mas no Brasil também passei por episódios de racismo e, entre lamentar e lutar contra, escolhi a segunda opção. E eu sabia que pelos padrões vigentes em nossas sociedades, para muitos, aquele não era o meu lugar: eu, uma mulher, mãe, negra, estrangeira ida de África e não dos EUA ou da Europa. Eu tinha consciência que ali seria discriminada por tudo isso. Mas entrei de cabeça erguida, andava pela universidade com as meninas e dava para ver as caras do tipo: o que você faz aqui?!! E, muitos nem imaginavam que eu fazia doutoramento ali.

Mas eu decidi enfrentar, superar e superei! Ensinei as minhas filhas a enfrentar o racismo e outras formas de discriminação, foi no Brasil que eu comecei a educá-las como crianças feministas. Hoje, elas são crianças feministas e, neste mundo patriarcal e machista, nada melhor que educar as nossas crianças como feministas, é a melhor preparação para a vida que lhes podemos dar, sejam meninas ou meninos.

Então, diante de uma discriminação eu reagia de imediato e dei muitas aulas formais e informais sobre conteúdos africanos, acima de tudo, fazia muito bem o que tinha ido fazer lá, fazia questão de fazer muito bem, para mostrar que uma mulher, mãe, negra, estrangeira e africana podia sim, fazer com sucesso um doutoramento, ter uma actividade académica e de activismo com sucesso. Terminei o doutoramento também em tempo útil, em Março de 2018.

Entre os grandes acontecimentos no Brasil, um dos mais importantes foi a homenagem pela Assembléia Legislativa de Santa Catarina, em 2017, por minha trajectória de luta em defesa da igualdade de direitos e contra todas as formas de discriminação e opressão.

Como mulher, são vários os momentos marcantes, alguns já indicados ao logo deste texto. Vou seleccionar alguns: um dos momentos mais impactantes foi quando me reconheci feminista, (porque ser feminista me valoriza quanto mulher; não preciso que alguém me diga que tenho valor, pois eu sei o meu valor e direitos). Não me lembro exactamente quando, mas quando isso aconteceu, eu identifiquei-me logo, porque fiz uma retrospectiva e vi que desde a infância, a minha trajectória, as minhas lutas tinham sido e são feministas. Tinham sido para mostrar que eu não sou inferior nem superior a um homem, por ser mulher – sempre acreditei que ser menina, mulher, nunca devia ser impedimento para realizar meus sonhos, sempre insisti em chegar onde a sociedade marcava como lugares impossíveis para as mulheres.

Os encontros do grupo Sororidade, agora associação, foram momentos marcantes, pois quando criei o Sororidade, o objectivo era ver a transformação das mulheres, que elas se enxergassem como sujeitas de suas vidas, que assumissem que elas têm um valor que vai muito além do papel servil a que o patriarcado as jogou e isso está a acontecer. Outro momento foi a homenagem no Brasil, nunca imaginei receber tamanha homenagem, tão nova e no estrangeiro. Impactou-me também a minha participação no 13º Congresso Mundos de Mulheres, em 2017, em Florianópolis. Foi um momento de encontros de mulheres de todo o mundo, de muita aprendizagem, sororidade e que mostrou que de facto, para tirar o mundo do buraco em que está, precisamos do feminismo, pois diferente do que dizem os detratores do feminismo, ele é de facto um pensamento, uma metodologia, uma teoria-acção que defende uma perspectiva igualitária entre as pessoas, em termos de direitos, oportunidades e dignidade, independentemente da raça, classe social, sexo. No dia que todos entendermos isso, o mundo será um lugar melhor.

Na verdade, na minha vida, foram muitas situações superadas. Quando se nasce numa “vilazinha” e se cresce numa aldeia e ainda por cima quando se é mulher e de repente você dá a volta ao mundo, adentra universidades nacionais e estrageiras e se faz um Doutoramento, é porque houve várias e duras etapas por superar, como por exemplo a discriminação de status, racial e de género. Onde as pessoas olham e pensam: por ser da aldeia, por ser mulher, por ser negra, você não vai conseguir! Eu já experimentei todas essas discriminações e superei, felizmente. Hoje enfrento essas discriminações com mais assertividade, argumentos e rebeldia, porque eu me preparo continuamente para enfrentar, leio e estudo sempre sobre. E quando você se prepara, em algum momento, a discriminação verga, é por isso que o feminismo não pode ser no vazio, só no blá-blá, há que ser sustentado com conhecimento e sabedoria.

POR UM NATAL MAIS SOLIDÁRIO

Para quem vai comprar os seus presentes de Natal, aqui vai uma sugestão: comprem os presentes de pequenas empresas. Das mulheres e mães empreendedoras, de artesãos, da doceira, do rapaz que tem uma banca no mercado, de quem produz brinquedos artesanais. Façamos o dinheiro chegar às pessoas comuns e não apenas às multinacionais. Assim, haverá mais pessoas com um Natal melhor e mais feliz. Apoiemos a nossa gente…e o comércio local.

(adaptado de uma corrente passada pelo Whatsapp)

Campanha dos 16 dias de Activismo Contra a Violência de Género

(25 de Novembro – 10 de Dezembro)

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Arrancou dia 25 de Novembro a Campanha de 16 dias de Activismo contra a Violência Baseada no Género de 2020, que visa aumentar os esforços para amplificar as vozes das mulheres trabalhadoras na economia informal. Em Moçambique, assim como em todo o mundo, a pandemia do COVID-19 trouxe consigo novas tensões que criaram dificuldades acrescidas às mulheres deste sector.

#16Dias

#ACovidNaoNosDivide

#AllWorkMatters

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A pandemia do novo coronavírus tem afectado fortemente o sector informal onde, justamente, um grande número de mulheres encontra a sua forma de rendimento e sustento. Nestes #16diasdeativismo, vamos chamar a atenção para o respeito, cuidado e protecção que o sector informal precisa e merece.

#allworkmatters

#nomoremissingrights

#trabalhoinformaltambemetrabalho

#16dias

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As Mukheristas são um dos grupos económicos tradicionalmente mais vulneráveis e expostos a situações de violência, assédio ou abuso. A pandemia deste ano trouxe desafios ainda maiores. Felizmente, estas são mulheres criativas, resilientes e inovadoras que, de uma forma ou de outra, continuam a superar obstáculos e a avançar com os seus negócios.

E tu, também acreditas que todo o trabalho merece respeito?

#ACovidNaoNosDivide

#16diasdeativismo

#16dias

#allworkmatters

#nomoremissingrights

#16days #orangetheworld

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Encerramos a campanha falando do sector da educacão e de como as mulheres que nele trabalham, principalmente educadoras de infância, têm sido fortemente afectadas pela pandemia.

Que as reflexões, experiências e histórias partilhadas ao longo destes #16dias sirvam de inspiracão e aprendizagem para percebermos que, em vários sectores, são ainda muitas as mulheres sujeitas a assédio, abuso ou violência.

E isto tem que parar!

Respeito, direitos e oportunidades para tod@s!

#NoMoreMissingRights

#acovidnaonosdivide

#AllWorkMatters

#orangetheworld

#16diasdeativismo

#16days

3ª edição – BOOTCAMP: FLORESCER IDEIAS E ALIANÇAS

Foi realizado nos dias 18 a 27 de novembro um circuito do Bootcamp/Atelier Feminista em duas rondas de reflexão que consistiu em 4 encontros virtuais de 2h30mim cada e 4 dias para os colectivos realizarem TPCs com a própria organização e interagir no Atelier Feminista.

Participaram, em média, 25 pessoas por sessão, contabilizando no total dos 4 dias a presença de 30 colectivos, dos quais 9 foram Organizações dos Fundos Plurianuais (MYF); 9 foram de Organizações dos Fundos Plurianuais que ainda não receberan fundos (MYF); e 12 foram de Organizações dos Fundos Rápidos (FRF).

Importantes reflexões: para a gestão ser feminista precisa de solidariedade, boa comunicação, capacidade de escutar e dizer assertivamente o que é preciso para trabalhar bem.

O sentimento do grupo é de pertencimento, conexão; sentem-se orgulhosas de superarem os desafios tecnológicos e de acesso ao formato de encontros virtuais; relatam que se sentem bem por terem esse espaço para falar, reflectir, conhecer as companheiras e saber das iniciativas feministas que estão a acontecer no Aliadas.

O Bootcamp aparece como uma oportunidade de ruptura de silêncios e de aprendizagem colectiva.

Women’s Voice and Leadership ALIADAS ( WVL - ALIADAS)
Av. Julius Nyerere, N.º 258 Maputo, Moçambique      CP 4669

(+258) 21 48 75 52 (+258) 21 48 75 65

(+258) 84 51 08 505 (+258) 82 47 08 431

e-mail: info@aliadas.org


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